sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O OURO DAS GERAIS


quando olho para as igrejas mineiras como as de ouro preto sinto uma culpabilidade delas para com a história sofrida dos negros escravos que as construíram sob a cruel chibata dos feitores, dá a impressão de que as coisas poderiam ter sido feitas de outra maneira, nada de o homem explorar o homem em nome de um deus que, por sua vez, sempre se mostrou indiferente, tão indiferente que prefiro não acreditar na sua existência, pois bem, só de pensar no sangue misturado ao suor do cativo umedecendo as pedras da rua para o branco passar com o seu cortejo religioso, onde o padre exalta a custódia sob a proteção do pálio, eu sinto arrepios e, até hoje, isto procede como se fosse politicamente correto, os acompanhantes são pessoas, na maioria, simples, sem instrução, muitos iletrados, vítimas do credo, alimentado pela ignorância e pela péssima qualidade de vida que ainda assola o nosso povo guiado por péssimos políticos, enfim, tudo isso não consegue tirar o brilho panorâmico dessas igrejas que teimam em não olhar para o futuro e sim para o passado, talvez por vergonha de estarem ali como frutos de muito sofrimento, deixando assim, como revolta, os seus fantasmas à mostra.


anibal werneck de freitas.

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