Texto de
Anibal de Freitas,
extraído do caderno
Culturarte Lua Nua,
Nº 1, ano 4, 01/09/1992.
Domingo, 2 de agosto de
1992. Pela manhã chega a notícia da morte do Andinho num acidente com a sua
moto. Foi aquele susto. Na mesma hora procurei por duas fitas K-7 ‘Encontros de
Amigos III e IV’. Foi um gesto brusco para aliviar um pouco a perda de um
companheiro de vida e música.
Assim, lá estava o Andinho,
na fita, cantando cheio de vida com o seu violão. A triste notícia tinha
chegado através do meu sobrinho Eric Machado.
Não demorou muito, o ronco
da moto do Celso Lourenço fez-se ouvir na frente de minha casa. Minutos depois
ele [Celso] e Sinval aparecem na porta da minha sala perguntando pela fita que
eu acabara de ouvir. Foi um momento muito triste e o Celso chegou a chorar. Neste
ínterim, o Celso relatou como o Andinho foi encontrado com o pescoço quebrado,
às 7 horas da manhã, três horas após o acidente ocorrido na Rio-Bahia saindo de
Ribeiro Junqueira em direção a Leopoldina.
Momentos depois chega o
meu irmão Marquinho e deste modo, ficamos ouvindo a fita.
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O enterro foi às 17 horas.
Foi um domingo nublado e muito triste. Quando eu e a minha esposa Alice
voltamos do cemitério já era noite. A falta de iluminação no caminho do campo
santo tornou o momento mais lúgubre ainda.
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Não sei por onde começar. A
vida é isso aí, nascer, viver e morrer? Três grandes questões da humanidade. Uma
coisa acontece quando alguém parte e essa coisa tem nome, chama-se Saudade.
Assim em vida e na forma
como o Andinho morreu , tudo se procedeu de forma violenta e rápida. Apesar de
tudo, valeu Andinho, você fez a sua parte. Amou a vida com toda a vontade
possível. Buscou longe tudo aquilo que satisfazia o seu eu. Fez sempre o que
realmente gostava de fazer. Ainda me lembro dos seus olhos brilhando frente a
uma canção que gostava ao som de um violão. Os festivais de música, os shows,
os bares, a casa do Celso Lourenço, a do Chico Bonoto e a minha também, tudo
relembra a sua passagem com você cantando e tocando violão.
Não importa se a morte é o
fim de tudo. O que importa é que você deu o seu recardo, breve, mas eficiente.
É isso aí, Andinho.
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Como forma de homenagear o
nosso companheiro e parceiro Andinho, eu e o Celso Lourenço resolvemos fazer
uma música. O Marco, meu irmão, achou a composição musical do Celso Lourenço
mais sutil. Abaixo as letras das músicas.
POR QUÊ, ANDINHO?
[Anibal Werneck de
Freitas]
Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!
Ainda pela manhã
Encontrado sozinho
Como na vida
Breve Andinho.
Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!
Na tristeza da tarde
Chorando baixinho
No meio da sala,
Sua mãe, Andinho.
Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!
À noite o cortejo
Num silêncio quietinho
Sem canto e violão,
Por quê, Andinho?
Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!
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VIDA, VIOLA E CANÇÃO
(Celso Lourenço)
Dorme, menino dorme.
Dorme que a noite já vem
E o mundo não é
brincadeira, menino
E a vida não é de ninguém.
Dorme, menino dorme.
Dorme que a morte lá vem
E a vida não é
brincadeira, menino
E a morte não é de
ninguém.
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Anibal Werneck de Freitas.
Anibal Werneck de Freitas.
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