quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O NOSSO ADEUS AO ANDINHO [Ânderson Panza]





Texto de
Anibal de Freitas,
extraído do caderno
Culturarte Lua Nua,
Nº 1, ano 4, 01/09/1992.









Domingo, 2 de agosto de 1992. Pela manhã chega a notícia da morte do Andinho num acidente com a sua moto. Foi aquele susto. Na mesma hora procurei por duas fitas K-7 ‘Encontros de Amigos III e IV’. Foi um gesto brusco para aliviar um pouco a perda de um companheiro de vida e música.
Assim, lá estava o Andinho, na fita, cantando cheio de vida com o seu violão. A triste notícia tinha chegado através do meu sobrinho Eric Machado.
Não demorou muito, o ronco da moto do Celso Lourenço fez-se ouvir na frente de minha casa. Minutos depois ele [Celso] e Sinval aparecem na porta da minha sala perguntando pela fita que eu acabara de ouvir. Foi um momento muito triste e o Celso chegou a chorar. Neste ínterim, o Celso relatou como o Andinho foi encontrado com o pescoço quebrado, às 7 horas da manhã, três horas após o acidente ocorrido na Rio-Bahia saindo de Ribeiro Junqueira em direção a Leopoldina.
Momentos depois chega o meu irmão Marquinho e deste modo, ficamos ouvindo a fita.
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O enterro foi às 17 horas. Foi um domingo nublado e muito triste. Quando eu e a minha esposa Alice voltamos do cemitério já era noite. A falta de iluminação no caminho do campo santo tornou o momento mais lúgubre  ainda.
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Não sei por onde começar. A vida é isso aí, nascer, viver e morrer? Três grandes questões da humanidade. Uma coisa acontece quando alguém parte e essa coisa tem nome, chama-se Saudade.
Assim em vida e na forma como o Andinho morreu , tudo se procedeu de forma violenta e rápida. Apesar de tudo, valeu Andinho, você fez a sua parte. Amou a vida com toda a vontade possível. Buscou longe tudo aquilo que satisfazia o seu eu. Fez sempre o que realmente gostava de fazer. Ainda me lembro dos seus olhos brilhando frente a uma canção que gostava ao som de um violão. Os festivais de música, os shows, os bares, a casa do Celso Lourenço, a do Chico Bonoto e a minha também, tudo relembra a sua passagem com você cantando e tocando violão.
Não importa se a morte é o fim de tudo. O que importa é que você deu o seu recardo, breve, mas eficiente.
É isso aí, Andinho.
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Como forma de homenagear o nosso companheiro e parceiro Andinho, eu e o Celso Lourenço resolvemos fazer uma música. O Marco, meu irmão, achou a composição musical do Celso Lourenço mais sutil. Abaixo as letras das músicas.

POR QUÊ, ANDINHO?
[Anibal Werneck de Freitas]

Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!

Ainda pela manhã
Encontrado sozinho
Como na vida
Breve Andinho.

Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!

Na tristeza da tarde
Chorando baixinho
No meio da sala,
Sua mãe, Andinho.

Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!

À noite o cortejo
Num silêncio quietinho
Sem canto e violão,
Por quê, Andinho?

Moto no mato,
Morto no fato.
E sua sorte?
Ficou no corte!
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VIDA, VIOLA E CANÇÃO
(Celso Lourenço)

Dorme, menino dorme.
Dorme que a noite já vem
E o mundo não é brincadeira, menino
E a vida não é de ninguém.

Dorme, menino dorme.
Dorme que a morte lá vem
E a vida não é brincadeira, menino
E a morte não é de ninguém.
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Anibal Werneck de Freitas.

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