segunda-feira, 29 de março de 2021

MURILO - PARABÉNS PELOS 4 ANINHOS.


 

MURILO SIQUEIRA WERNECK - 4 ANINHOS - PARABÉNS!


Nosso querido netinho Murilo está fazendo 4 aninhos hoje, travesso como ele só, nos transmite uma alegria pura e singela, na verdade, um anjinho sem asas que se descortina à nossa frente, sempre sorridente e brincalhão, um bebezão que ainda chupa bico e toma leite na mamadeira com muito gosto, que está sempre brigando e abraçando o seu irmãozinho Saulo mais velho dois anos, enfim, nossa maior alegria que nos apaixona a todo momento, nosso garoto da vez. Sendo assim, Murilo, nossos
parabéns
e que continue assim sempre espontâneo, sempre com os seus olhos grandes, cheios de vida e carinho. 

Dos avós, Alice e Anibal, em 29.03.2021.

sábado, 27 de março de 2021

DE COMO A DONA JANDIRA VIU UMA PROCISSÃO DOS MORTOS, PASSANDO EM FRENTE À SUA CASA, NUM PEQUENO LUGAREJO, ONDE MORAVA, EM PLENA MADRUGADA DO FINAL DO SÉCULO XIX.

 

no final do século XIX, numa pequena localidade, perdida neste imenso brasil, aconteceu um caso bastante fantasmagórico, 'a procissão dos mortos', vamos a ele:

dona jandira, uma senhora já idosa, gostava muito de ficar na janela de sua casa, tomando conta da vida de todo mundo, até altas horas da noite.

no lugarejo, onde morava, era costume as pessoas se recolherem a partir das dez horas da noite, deixando assim as ruas totalmente desertas. 

sendo assim, a dona jandira não respeitava as pessoas e nem o costume, e ficava no seu posto até o início da madrugada, ignorando as advertências das pessoas de que ela corria um grande perigo. 

A rua da dona jandira era comprida, e nela havia algumas casas, a igreja e o cemitério.

então, certa noite sem luar, depois das doze horas, esta senhora, muito curiosa e bisbilhoteira da vida alheia,  viu uma estranha e silenciosa procissão, com velas acesas, se descortinando à sua frente e, meio assustada, ela estranhou o horário do cortejo e o silêncio dos sinos da igreja, mas mesmo assim, continuou observando o evento inesperado, notando que as vestes daquelas pessoas estranhas eram pretas, envolvendo todo o corpo e ostentando um capuz que cobria toda a cabeça, não dando assim para identificar ninguém.

era uma madrugada de puro breu, de repente, ela viu um vulto se deslocando da estranha procissão, vindo em sua direção, sem deixar ver o rosto, e se aproximando dela, lhe entregou um objeto que parecia ser uma vela apagada: “guarde isto, não conte nada pra ninguém o que você está vendo, porque amanhã, neste exato momento, voltarei para pegá-lo” e, deste modo, se misturou rapidamente aos demais passantes.

apesar de intrometida, dona jandira era corajosa, todavia, ficou bastante assustada, fechou a janela, colocou a ‘coisa’, que recebeu da enigmática entidade, sobre a cômoda e, cansada, pegou no sono.

no dia seguinte, ela achou que tudo não passava de um pesadelo, no entanto, foi até à cômoda para averiguar e viu um osso humano, no lugar do que lhe parecia ser uma vela.

já com o horror estampado na sua face, a idosa lembrou que o homem esquisito iria voltar, e, deste modo, pegou o terço e começou a rezar freneticamente, passando o dia todo sem comer sem beber e, apesar de corajosa, tremia dos pés à cabeça, e assim ficou até o momento da hora sinistra, quando ouviu três batidas na sua porta.

completamente desnorteada, sem saber o que poderia acontecer com ela, abriu abruptamente a porta e rapidamente entregou o osso ao visitante macabro que, ao pegá-lo, num passe de mágica, se transformou em uma vela acesa, clareando assim, o seu rosto cadavérico que, desta forma horrível, a aconselhou: “isto é pra você aprender a não falar mal dos outros, perturbando a paz até dos mortos, e tem mais, agora você está na obrigação de contar esta história, como exemplo, pra toda a gente deste povoado!”, após dizer isto, com muita ênfase, o misterioso ser sumiu na intensa escuridão.

anibal werneckfreitas, jf, 28.03.2021. 

 

anibalwerneck@gmail.com

sexta-feira, 26 de março de 2021

DE COMO UMA MULHER PERVERSA SE TRANSFORMOU NUMA COBRA SURUCUTINGA NO SEU TÚMULO EM CONCEIÇÃO DA BOA VISTA.



uma mulher diabólica tinha um ciúme mortal do marido, um fazendeiro de muitas terras, lá pras bandas de conceição da boa vista.
pois bem, tudo começou quando essa mulher cismou que uma escrava muito bonita estava chamando a atenção do seu senhor e, acostumada a mandar açoitar escravos fujões no tronco com muitas chibatadas, pensou logo em lhe fazer mal: "essa escrava maldita não vai me fazer de boba, vou vigiá-la o tempo todo", e assim, por mais que a vigiasse, nunca descobriu nada, e isso a deixava mais irritada.
certo dia, essa escrava teve um filho, foi o estopim: "isso não vai ficar assim, essa criança só pode ser do meu marido, vou dar um jeito nisso agora!", deste modo, descontrolada, com muita raiva, aproveitando a ausência da mãe, que estava trabalhando na cozinha num dia em que tinha muita gente na fazenda, sufocou o recém nascido e, iludindo a vigilância dos presentes, meteu o corpinho da criança no braseiro do forno, onde se conservou até que o fogo destruísse os últimos vestígios de seu crime.
infelizmente, naquela época, o escravo era como um cachorro, podia ser morto pelo seu senhor e ficar tudo por isso mesmo, a bem da verdade, o negro era considerado um ser que não tinha alma e, a igreja por sua vez, fazia 'vista grossa' à tal barbaridade pra não entrar em conflito com os fazendeiros ignorantes.
como tudo na vida, o tempo passou e quando essa odiada mulher morreu, salvo a família, quase ninguém foi ao seu enterro.
acontece que depois de alguns anos, seu túmulo fendeu-se, e, por uma dessas fissuras, penetrou uma enorme surucutinga que se acomodou nele.
a esse fato, atribuíram fazendeiros e escravos das redondezas, ter a mulher, pela sua maldade, se transformada numa assustadora mulher-cobra, assim como nos conta o seu francisquinho: "pra ela não sair e assustar as pessoas, seu túmulo foi cercado por uma corrente para isolar coisas do outro mundo, mentira ou não, até hoje muita gente supersticiosa tem medo dela quebrar a corrente e sair assombrando o povoado".

nota: dados do texto, colhidos por celso lourenço, no livro, 'sertões dos puris', de heitor de bustamante.
vídeo: música, 'conceição assombração' (anibal wf.)
anibalwerneck@gmail.com


sábado, 20 de março de 2021

de como conheci a minha saudosa avó paterna, ana hygino de freitas.




nos anos 50, em todo 8 de agosto, minha avó ana acordava sempre bem cedinho: "hoje é o aniversário do meu filho antônio, é a data real do seu nascimento, que infelizmente o meu marido francisco registrou no dia 15". 

minha avó morava perto da capelinha, que existe até hoje na pracinha, em conceição da boa vista, onde tinha na ocasião um pequeno negócio, além da venda do mel oriundo da sua considerável colmeia, tanto assim, que uma vez me alertou: "filho, não faça muito movimento brusco, pode irritar as abelhas e aí você já sabe o que pode acontecer!".

então, voltando ao primeiro parágrafo, ao sair pra recreio, minha avó pegava sua inseparável sombrinha, subia uma rua íngreme até a igreja, no alto do morro, e sozinha enfrentava a pé uma estrada de cinco quilômetros.

enquanto caminhava, segundo ela, cogitava: "antônio é o meu filho mais velho, foi o primeiro a sair de casa pra me ajudar a criar os irmãos, perdi o meu marido francisco muito cedo, tinha alma de seresteiro, gostava de cantar e tocar violão, deus sabe o que faz, que ele o tenha".

quando o sol começava a esquentar, ela abria a sombrinha e com passos firmes prosseguia a sua trajetória até na entrada de recreio, onde parava pra descansar e, em seguida, retomar a caminhada até a casa do filho na rua conceição.

meu pai tinha um estabelecimento comercial, conhecido por 'café sto. antônio', estava sempre cheio de fregueses, principalmente de conceição e de barreiros, sendo os que não tinham charrete ou cavalo, vinham no caminhão do agostinho e os mais abastados no ford 29 do andrezinho.

desta feita, minha avó ana chegava no estabelecimento do meu pai, não se anunciava, ficava sentada num cantinho do cômodo, numa paciência de jó, vendo o seu filho trabalhando no balcão, esperando a hora de poder se levantar e dar os seus parabéns, era o momento em que minha mãe wanda tomava conhecimento da sua presença, porque estava, o tempo todo na cozinha, fazendo doces e salgados.

minha avó era desse jeito, tinha os seus princípios, não gostava de ser contrariada nas suas decisões, meu pai tentava mudar esse seu comportamento, todavia, em vão, ela só aceitava ajuda na sua volta pra casa, à noitinha.

nota: a música do vídeo, 'quand'eu morrer', era muito cantada pelo meu avô francisco, eu a gravei, graças à minha prima, odete moreira, que a resgatou.

anibal werneck de freitas, 

jf, 20.03.2021


quinta-feira, 18 de março de 2021

DONA LÍBIA


À
 tardinha do dia 8 de junho de 2009, o Armando Sérgio, o Pedro Dorigo e eu fomos até à casa da Dona Líbia, em Juiz de Fora, para uma entrevista, que se desenrolou muito descontraída, graças ao bom humor da entrevistada.

Dona Líbia Tomasco nasceu em Recreio-MG., no dia 14 de fevereiro de 1922, filha de Antônio Tomasco e Grázia Cardoni Tomasco, uma família numerosa, tendo como irmãos, Carmelita, Itália, Aurélio, Letícia, Yolanda, Maria, Humberto e Renato, de pais italianos, cujos filhos foram registrados somente com o sobrenome do pai, ou seja, Tomasco.

Dona Líbia, como gosta de ser chamada, teve uma infância feliz, cresceu, e casou-se com o Joaquim, fármaco prático, vindo de outra cidade, após dois anos de namoro, no dia 20 de novembro de 1942, e deste enlace nasceram, Ricardo, Raquel, Evandro, Ronaldo e a temporona, Eveline, quando já estava com 42 anos.

Em relação aos netos, Dona Líbia delineou: "Marcelo, Leonardo e Juliana do Ricardo, Luís Otávio, Graziela e Fernanda da Raquel e os bisnetos, Manuela, Maria Luísa e agora um menininho, filho da Juliana, o primeiro bisneto".

Perguntada sobre a sua vida estudantil, respondeu: "Fiz o primário no Grupo Escolar Olavo Bilac, e com 11 anos eu já estava estudando em Leopoldina-MG., no Colégio Imaculada, naquela época eram dois anos de adaptação e três normais, onde fiquei no internato".

Sobre o harmônio que tocava na igreja católica, disse: "Na verdade, eu estudei 5 anos de piano, mas depois que o meu pai morreu, passei a tocar o harmônio da matriz, que é praticamente a mesma coisa".

A respeito do 'Empório Tomasco' do seu pai, ela fez questão de contar a história: "Chegando ao Brasil, meu pai estava destinado a São Paulo, mas aí acabou vindo para Recreio, agora deixe eu contar uma história sobre este 'Empório Tomasco'. Meu pai tinha um sócio, aí ele teve que ir para a Itália para se casar com a minha mãe. E assim ele deixou o sócio tomando conta. Quando ele voltou pra Recreio, minha mãe e minha irmã Carmelita vieram com ele. A viagem demorava três meses, pois bem, quando ele chegou em Recreio, não tinha mais nada, o sócio roubou tudo dele, a loja ficou, mas o estoque foi todo com o sócio. E assim, meu pai começou do nada, fez muita coisa, tinha máquina de arroz e até refinação de açúcar. O interessante é que a primeira luz elétrica em Recreio foi na nossa casa, no registro meu pai é o número 1. Meu pai foi um herói e ainda deixou muita coisa pra sua família quando morreu, meu pai morreu com 60 anos e eu tinha 10 anos. Os negócios do meu pai continuaram com o Humberto, que trabalhava com ele e que continuou com a máquina de arroz  que passou a ser dele depois".

Dona Líbia começou a trabalhar no magistério em 1939, ano em que Recreio passou a ser cidade, no Grupo Escolar Olavo Bilac. Ainda muito jovem, foi apontada pelo partido majoritário na cidade, PSD, pra ser a diretora do 'Olavo Bilac', a princípio relutou, porque as professoras eram mais velhas que ela, mas a própria diretora Dona Lourdes a incentivou pelo fato dela ser muito bem preparada para a exercer o cargo que foi 1950 a 1963, e segundo ela só faltou nos partos, aposentando ao 42 anos de idade. Durante sua gestão, houve um desfile de 7 de setembro de 1958, que ficou famoso na cidade, cujo tema era a 'História do Brasil', desde Cabral até os dias atuais e, quando foi indagada se tinha uma recordação do evento, muito triste, conotou: "Infelizmente, eu só tenho uma foto, a do 'barco do Cabral', naquela época era muito difícil registrar eventos, não era como hoje com o advento da internet".

E olhando pra gente que a estava entrevistando, completou: "Eu me lembro do Marcelo representando o D. Pedro I e de vocês, também. Esta ideia grandiosa surgiu de uma reunião que fizemos, cada uma dava a sua opinião do que gostava, como a Graciema, a Cacilda e outras que não me lembro. A menina do Henrique Zamanha, a Maria do Carmo, por exemplo, além de boa professora, gostava de organizar festas, e então chamou o Seu Nazaré para ajudar no desfile e assim, ele se mostrou um ótimo colaborador, ajudando muito mesmo. E deste jeito, os carros alegóricos foram montados no quintal enorme do Seu Henrique Zamanha, no alto da igreja. Como diretora dei todo o meu apoio, todavia, aconteceu algo terrível, o filme do desfile simplesmente desapareceu, até hoje não me conformo com isso!"

A música sempre foi muito presente na vida da Dona Líbia, sendo assim, ela exprimiu: "Eu comecei com um coral de meninas dos 8 aos 9 anos de idade, eu me recordo da Édna, da Elda e da Marluce, filhas do Seu Nogueira e, também, da Lenira Peres, eu acompanhava o coral no harmônio. Depois disso, eu e o Celino no violino, passamos a acompanhar o coral de adultos da igreja, nas cerimônias religiosas, nas missas de domingo e nos casamentos. Foi um tempo maravilhoso, apoiado pelo Pe. Celso Campos Sales. Nosso repertório era a 'Ave Maria' em latim, a 'Marcha Nupcial' e outras do gênero. As cantoras do coral eram, a Nadir, a Nair, a Niva do Dedé da Carcacena, a Aparecida Lucas, com uma voz muito bonita, filha do grande Maestro Zé Lucas e finalmente, a Tereza do Juca André. Infelizmente, com a mudança do pároco, o coral não foi adiante". 

Já no finalzinho da entrevista, ela complementou: "meu marido, o Joaquim, era fármaco num Recreio que só tinha o médico Dr. Darcy e, por isso mesmo, ele ia além dos seus conhecimentos, salvando vidas como a do Sérgio, da Dona Rita do Bitão, que não melhorava com os medicamentos do Dr. Darcy e, também, a do Seu Caminha, que tomou um tombo enorme do seu caminhão. Sabe como são as coisas, meu marido, diabético, teve de ser internado em Juiz de Fora e deste modo, mudei-me pra cá, onde meus filhos tinham mais condições de estudar.

NOTA: Os dados deste texto-entrevista estão nas páginas 6, 7, 8 e 9, do fanzine Mar de Morros, nº 106, julho-agosto de 2009. Seu filho, o Dr. Evandro, estava presente e nos deu o maior apoio na entrevista.

Anibal Werneck de Freitas, jf, 18.03.2021


domingo, 14 de março de 2021

humano futebol humano (anibal werneckfreitas)


humano futebol humano, momento de comunhão das etnias, templo sagrado da raça humana, mostra da certeza de que somos geneticamente iguais. 

cor da pele, feição física, tipo de cabelo, estatura, costume, língua, credo..., tudo isso são detalhes como os uniformes das equipes, a diferença está apenas no lado estético, como duas casas feitas sob plantas diferentes, só que a função de ambas é idêntica, ou seja, servir de moradia, pois o ato de morar é tudo, é movimento, não importa o tipo de casa, desde que satisfaça à necessidade de proteção do ser humano, porque nessa parte também somos todos iguais.

bendito futebol, que através de um 'tiro de meta' nos faz ver que não somos diferentes na ação, é o campo vital, da bola rolando sobre o verde tapete, da glória do movimento, só não vê quem não quer, o 'drible' da perna sueca não difere em nada da perna nigeriana, a emoção inglesa é a mesma da japonesa, a torcida iraniana se manifesta igual à brasileira, onde está a diferença?, ela está apenas na parte superficial.

bendito futebol, mil vezes bendito, só você mesmo para nos levar à conclusão de que somos desiguais na superfície estática e, infinitamente iguais no âmago do movimento, cujo movimento chamamos de vida ou humano futebol humano.

anibal werneckfreitas, jf, 14.03.2021


quinta-feira, 11 de março de 2021

sempre me lembro da igreja vestida de roxo



sempre me lembro da igreja vestida de roxo, da tristeza fria no templo, do calor do sol lá fora, das pessoas entrando, rezando e saindo num silêncio sepulcral, dos mais velhos falando da quaresma, de jesus enfrentando o diabo no deserto, do mundo à mercê das forças do mal, da mula sem cabeça e do lobisomem soltos na noite assombrando a criançada, dos adultos explorando tal situação pra impor respeito, do são josé com o menino deus no colo, da nossa senhora e de todos os santos cobertos de roxo, do mundo que parecia ter parado na minha pequena recreio, dos sinos que não se manifestavam, do padre cuidando só do inadiável, dos 40 dias tristes e ameaçadores que custavam passar, sempre me lembro da igreja vestida de roxo e da vitória de cristo sobre o demônio.

anibal werneck, 11.03.2021 

 

domingo, 7 de março de 2021

dona íris coimbra de almeida (1928-2018)



sempre sorridente, dona íris me recebeu em sua casa, frente à dos meus pais, na rua conceição, numa manhã fria de segunda feira, bem cedinho, do dia 10 de maio de 2010, em recreio(mg), para uma entrevista cogitada pelo fanzine, mar de morros. 

vinda de uma família numerosa, e sendo a mais velha, foi logo citando os seus irmãos na devida ordem: 'iolanda, josé, aracy, jairo, roberto, fernando, antônio márcio, heloísa e helena' e em seguida: 'a lenira e a ruth morreram precocemente'.

dona íris nasceu em 12 de novembro de 1928. teve uma infância muito feliz, e recreio ainda era pequenininho. as ruas onde morou foram, joão perillo, major cristiano magalhães, onde viveu a infância, e finalmene, na rua conceição. 

seu pai, o sr. isidoro de almeida coimbra e a sua mãe, isa teixeira coimbra sustentavam a família, através do comércio.

na sua adolescência até a juventude, vivenciou um período difícil, com o avanço do fascismo no mundo até o final da guerra mundial, em 1945. 

sobre esta nefasta situação mundial, ela contou: 'o marco maior foi o término da guerra mundial em 1945. durante o conflito, a gente via muitas mães fazendo trabalhos manuais para mandar pros pracinhas. daqui de recreio foi uma turma pra guerra, e quando terminou, em 8 de maio de 45, foi aquele movimento, foi um 'bum' nas ruas, recreio explodiu, foi realmente um acontecimento com música e tudo mais'.

e deste modo, prosseguiu: 'naquela época tinha a banda do maestro josé lucas, a 1º de maio, que animava as ruas da cidade, o carnaval, que as pessoas acham que era melhor do que hoje, mas eu não acredito nisso, tudo evolui, cada coisa tem a sua época, o carnaval, na verdade, se modificou'.

e, deste modo, continuou: 'anibal, veja bem, hoje temos a internet, a garotada adora, no entanto, sua faixa etária não se entusiasmou tanto assim com esta novidade, não é?, não é todo mundo que gosta, agora, esta meninada já entra pra valer!'

assim era a dona íris, aceitava o novo, mas sempre alertava: 'a internet tem um problema muito sério, mete medo, as mães hoje em dia trabalham fora, os filhos ficam sozinhos em casa, todavia, acho que todo problema é superado'.

quando foi questionada na questão educacional no recreio da sua época, respondeu: 'era tudo muito difícil, aos 12 anos comecei a trabalhar na companhia de leiteria leopoldinense, deste modo, trabalhava de dia e estudava à noite. apesar de tudo isso, recreio tinha sempre uma escola, para alunos do noturno, como, o instituto de ensino recreio novo, onde cheguei estudar, na verdade, recreio nunca ficou sem escola, os meninos que estudavam fora, lecionavam à noite, e rindo, confessou: 'eu já fui aluna do chumbinho'.

sobre o seu casamento com o dr. geraldo damasceno (in memoriam), relatou: 'eu me casei com o chumbinho muito cedo, com 24 anos já tinha 5 filhos, coisa da época, a wanda, sua mãe, também teve filhos cedo. você, a terezinha (minha filha), o pedro da edir, o josé dilton da conceição, o solimar da stela, o ruimar da antonieta..., todos filhos de mães novinhas, todos nasceram e cresceram na rua conceição, depois foram pra fora estudar. nesta ocasião, comecei a trabalhar com o chumbinho, no cartório, e, quando ele ficou na prefeitura, eu o substituía legalmente'. 

e assim, delineou os filhos, do mais velho ao mais novo: 'terezinha helena, josé heleno, eliana, geraldo, maria do carmo e márcia aparecida'.

durante a entrevista, dona íris ainda comentou com muito humor, os casos engraçados que aconteciam no cartório.

muito atualizada, dona íris lia jornais todos os dias, na sua varanda, e estava sempre a par do que acontecia no brasil e no mundo. 

no fim da entrevista, lamentou o passamento da dona nice damasceno: 'a nice não foi uma cunhada que perdi, foi uma irmã, foi muito amiga mesmo. a caminhada que a nice fazia pela manhã, não deixava de passar aqui em casa primeiro, os meus filhos eram também filhos dela. ela me ajudou a criá-los, com todo o carinho, tanto ela, quanto o zaca, seu marido'.

como tudo passa nesta vida, infelizmente, dona íris nos deixou no dia, 17 de março de 2018, aos 89 anos, foi uma vida exemplar, à qual devemos muito e, sendo assim, nosso eterno muito obrigado.

nota: depois da entrevista, ao chegar em casa, minha irmã, ana luísa, aproximou-se de mim e: 'nossa, acabei de sonhar com o chumbinho agora, ele estava muito feliz!'.

sexta-feira, 5 de março de 2021

seu cafrázio



seu cafrázio era um homem muito espirituoso e, como de sempre, falador, na verdade, gostava de brincar com as palavras, emanando alegria o tempo todo.

nas suas sentenças acrescentava constantemente os termos, ora 'num san', ora 'bililão'.

o mais interessante no seu cafrázio era que estava sempre aberto às coisas novas, dava gosto conversar com ele.

certa feita, sentado na sua poltrona, seu cafrázio cantou pra mim, ao seu modo, a música 'por ti', que eu e o sílvio césar fizemos para o repertório dos selenitas, confesso que fiquei boquiaberto vendo ele delinear toda a letra da canção.

realmente, era um homem de uma bondade sem par, por isso mesmo, sua ausência está sempre preenchida pelas boas lembranças, que nos deixou.

janine e antônio carlos, nossos parabéns, pela data natalícia!



o tempo não existe e a data é apenas uma convenção humana, para coordenar o nosso caminho, que é também fictício. 

portanto, o que é o caminho, realmente? respondo que é apenas a nossa trajetória neste planeta.

sendo assim, parabéns, meus irmãos, janine e antônio carlos, pela data natalícia, vocês merecem!

são os votos de anibal, alice e filhos.

jf, 05.03.2021

quarta-feira, 3 de março de 2021

JULINHO & DÉLCIO (HOMENAGEM PÓSTUMA)



ainda me lembro muito bem, final dos anos 60, bem cedinho, pegava o meu violão e corria pra casa do seu cafrázio. lá, eu acabava acordando o délcio, o sebastião e o julinho, que dormiam no mesmo quarto, e deste modo, púnhamos a cantar e a tocar os sucessos do então iê, iê, iê!
naquela época, o quarto era o único lugar da casa pra ensaiar. o milton nascimento, também, conta algo parecido, parece-me que era moda, assim presumo. 
pois bem, toda aquela alegria ficou no tempo, tempo em que o sonho era mais forte que a realidade, tínhamos uma imensa estrada pela frente, tudo era muito colorido, o Julinho gostava de tocar sua gaita de uma maneira romântica, e também, de fazer serenata para uma paixão que tinha naquela ocasião. 
deste modo, chegou a ser membro dos selenitas, dando aquela força no que fosse preciso. 
certa feita, ele fez um microfone pra gente com o alto falante do rádio do seu pai. acontece que devido a isso, seu cafrázio apareceu muito nervoso no nosso ensaio, na sede do recreio, e já zangando: Julinho, 'num san', você deixou o meu rádio mudo, não consigo ouvir nada, devolva-me o microfone, digo, o alto falante!
pois é, bons tempos aqueles, todavia, um simples telefonema do meu irmão, marquinho, jogou tudo por terra: estou no velório do julinho, foi tudo de repente.
o interessante é que dias antes, eu falei dele com a minha mulher, alice, ressaltando que ele me chamava de tucanlino, um personagem, criação minha. 
o passamento do julinho  é uma lacuna que deve sempre ser preenchida com boas lembranças.
pois é, como se não bastasse, seu irmão délcio resolveu lhe fazer companhia.
'a morte não permite despedidas, apenas cava buracos em nossas vidas', aprendi esta frase no seriado Sense 8.
sendo assim, mais uma vez, a morte me fez voltar no tempo, justamente no quarto referido acima. lembro-me como se fosse hoje, ano de 1966, eu frequentava a casa dele e todas as manhãs, no quarto de dormir, tocávamos violão e cantávamos as músicas da jovem guarda, donde posso afirmar que os selenitas surgiram a partir daí. 
o délcio era o mais velho dos irmãos e o sebastião o mais novo.
naquela ocasião, o nosso quarto de ensaios ficou tão conhecido, que um belo dia, o guitarrista, josé luiz, do famoso conjunto 'Paladium', apareceu nele e tocou maviosamente, a 'nossa canção' do roberto.
Infelizmente, a dura realidade é que a morte produz verdadeiros buracos negros no nosso universo interior, 'mas não tem nada, não, tenho o meu violão', como nos diz toquinho em cotidiano nº 2. 

anibal werneckfreitas, jf. 04.03.2021

DE COMO A TROMBA D'ÁGUA DE 1948 CEIFOU A VIDA DE MUITA GENTE

 


a tromba d'água de 1948, conhecida pelos recreienses como de abaíba, na verdade caiu em providência(mg), na noite de 14 para 15 de dezembro, com as águas indo em direção ao arraial de são pedro de alcântara, banhado pelo rio pirapetinga.
os mais antigos desta pequena localidade contam que, quando o rio começou a subir sem parar, o céu estava completamente azul e, por isso, as pessoas foram completamente surpreendidas, ou seja, das 400 almas, mais de 100 perderam a vida.
pois é, segundo a minha mãe, wanda, muita gente ficou com medo da terrível enchente ir pra recreio-mg., e isto acabou traumatizando, tanto assim que, quando armava um temporal, muitos recreienses corriam pro alto dos morros.
na minha infância, por exemplo, eu me lembro da saudosa dona íris, nervosa, saindo do cartório e no meio da rua conceição, policiando as nuvens escuras, dizendo: meu deus, tomara que esta chuva não seja forte!
anibal wf. jf, 03.03.2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

a máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)




em 2011, eu comprei o livro, 'a máquina de fazer espanhóis', do escritor angolano, naturalizado português, valter hugo mãe, e deste modo, vi a sua ousadia de escrever só com as letras minúsculas, e gostei muito. 
confesso que na minha juventude, conheci uma pessoa, cujo nome não me lembro, que era assim, só escrevia com a letra minúscula. afinal, como diz o próprio valter hugo mãe: ninguém pra falar usa a letra maiúscula, deste modo a gente tem que desenvolver um texto da maneira como falamos, o importante é o entendimento. 
pois bem, o livro que adquiri na livraria, 'a máquina de fazer espanhóis', é uma crítica dura à situação portuguesa frente à europeização. no seu livro, valter hugo mãe, fala da velhice de forma pesada, desgastada mesmo, que só tende a piorar, e portugal é este velho, um país que se declinou devido a uma puta ditadura do infame salazar, que deixou o povo português num complexo de inferioridade. 
quem diria, um país que foi o sonho de padre antônio vieira, pois acreditava que seria o 'v império do mundo'. 
portanto, resolvi escrever só com as minúsculas, afirmo que a muito tempo venho acalentando o sonho de escrever assim, nunca tive coragem para tal, mas depois da audácia do valter hugo mãe, tomei coragem, até porque não tenho nada a perder, não sou famoso, não tenho compromisso com nenhum leitor, escrevo por que gosto, o mais importante é transmitir alguma coisa e, pra quem sabe ler, um pingo é letra.

nota: tenho também outra razão para escrever só com as letras minúsculas, trata-se de que enquanto você coloca a letra alta, perde a fluidez do seu raciocínio.

anibal werneck, jf. 01.03.2021

VENTO SUAVE (Lenira, Armando e Anibal)