Quando ouço um disco do Milton Nascimento eu fico pensando, como seria o
compositor se não existisse a religião que sempre lhe inspirou através
da música sacra, digo isso porque o que a gente percebe é que ele não
tem uma religiosidade digamos 100%, todavia, sabemos também, que não tem
nada a ver uma coisa com a outra, por outro lado eu sinto que existe
uma força muito grande provinda do lado arquitetônico das igrejas
mineiras e das esculturas dum Aleijadinho ou de um Atayde, confirmo que
aí existe uma energia que faz até um ateu tremer quando entra em
contato com as devoções das irmandades que graças a elas muita coisa
bonita foi construida na nossa Minas Gerais, Ouro Preto está lá pra
dizer que não estou mentindo, até Carlos Drummond que era ateu convicto
se sentiu diferente dentro da igrejinha da Nossa Senhora do Ó, a
explicação é simples, diante da arte todo homem é vulnerável, ainda mais
de uma sagrada, é a força do imponderável que incomoda até o ateu dos
ateus, eu, da minha parte, me preocupo apenas com aquilo que está ao
alcance dos meus sentidos, o mundo pra mim é só átomo, se existe alma,
ela também tem átomos, do contrário não se uniria ao nosso corpo,
portanto, a arte sendo algo que contém átomos faz com que a gente sinta
algo além do imaginável, daí a razão da grande preocupação da Igreja
para com ela que realmente provoca uma sensação surrealista nos fieis
que passam a sublimar as figuras dos santos, dos profetas, do próprio
Jesus, da Virgem Maria e de Deus, dando assim créditos de que tudo ali
exposto existe realmente, continuando, é a extensão necessária que leva o
crente ao inatingível, sua ignorância em relação à vida o torna
desarmado e assim ele se torna presa fácil na esperança oferecida pela
arte de um mundo melhor depois deste, é esta a grande força da religião
na cabeça até de alguns intelectuais e cientistas, imagine na cabeça do
povão, afirmo até que
viajo quando entro numa igreja barroca, é o
poder da arte, sem ela o templo se torna um imenso vazio, o que
considero até mais justo, as igrejas evangélicas não têm este aparato
artístico, mas em compensação usam a música que é também arte,
concluindo, sem ela nenhuma religião se realizaria plenamente, esta é a
grande verdade.
Anibal.
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