quinta-feira, 22 de novembro de 2012

AÇÃO COVARDE DO SUPERINTENDENTE



 Naquele dia Francisco acordara com o pé esquerdo, logo pela manhã ele viu através da janela do seu quarto que dava para o pátio frontal do palácio do superintendente das minas gerais, um homem sendo covardemente executado sob o esquartejamento de  dois enormes cavalos, os animais relinchavam como se fosse um protesto ao ato cruel em que eles estavam sendo submetidos, um padre já carcomido pelos anos segurava uma cruz e orava aos céus pela alma do condenado, mais acima do padre estava o superintendente com os seus amarra-cachorros , todos sorrindo, uns com dentes na boca, outros não, mais abaixo algumas mulheres choravam enquanto outras esbravejavam palavrões em direção ao réu. Francisco meio assustado, nem o café matinal tomou, vestiu-se como pode e saiu que nem um louco para ver quem era o infeliz, não deu nem tempo, o esquartejamento estava consumado, o chão era uma mistura de sangue, ossos e carne, Até quando isso vai acontecer?, uma senhora ao lado respondeu, Até no dia em que nós expulsarmos esta gente ruim de nossa terra!, A senhora abaixou a cabeça e saiu para os seus afazeres. Francisco sentiu a boca seca e resolveu ir para a taberna tomar um pouco de vinho, a cena que vira e que já estava acostumado a vê-la desta vez mexeu mais forte com ele germinando assim um ódio mortal pelos homens que ignoravam sua gente. Na taberna o assunto não era outro, uns criticavam o governo, outros  o apoiavam dizendo que foi pouco. Indignado, Francisco escolheu um lugar mais reservado e assim ficou bebendo e pensando, sem ter ninguém na sua mesa. De repente um jovem apareceu e lhe pediu para sentar, Francisco consentiu fazendo um sinal com a cabeça, o jovem se assentou e começou, Estou chegando de longe e o meu trabalho é garimpar, me disseram que por aqui tem muitas minas, é verdade?, Sim, meu caro só que o governo confisca tudo, se está pensando em ficar rico, esqueça, eles tiram tudo e só deixam migalhas para o garimpeiro, muitos já foram até embora, hoje esquartejaram um pela manhã só porque ele ousou reclamar com o superintendente a injustiça que estava acontecendo com eles [garimpeiros] na frente de centenas deles intimidando assim a autoridade que mui precavida mandou todos para casa falando que ia resolver o problema, e resolveu?, Que nada, no dia seguinte mandou seus soldados prendê-lo e numa sentença rápida condenou o homem à morte, se não me engano o nome dele era Filipe, o superintendente foi muito covarde, Se foi, Retrucou o rapaz sorvendo um caneco de vinho.
Anibal Werneck de Freitas.

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VENTO SUAVE (Lenira, Armando e Anibal)