terça-feira, 15 de junho de 2021

DE COMO UMA ENTIDADE ESPIRITUAL SIMPÁTICA CONQUISTOU A AFEIÇÃO DOS ALUNOS E DAS ALUNAS NO TEMPO DO COLÉGIO JOÃO XXVIII DE RECREIO, MG.



confesso que ponho muita água no feijão, pois é, desta vez, resolvi contar um caso verídico, que aconteceu comigo, quando dei aula no joão XXXIII, até o colégio fechar. nele, aprendi muito com a dona nice, minha inesquecível diretora, mulher inteligente, que ia sempre nos meus recitais. voltando ao assunto, naquela época, as salas de aula não atingiam nem a metade do edifício, devido a isso, os banheiros masculino e feminino ficavam um pouco distantes das salas, gerando um certo medo nos alunos menores, tanto assim que eles diziam sempre pra mim, 'professor, eu tenho medo de ir ao banheiro, só vou porque não tem outro jeito, a gente chega nele e já sente uma presença estranha'. confesso que eu não dava muito crédito, todavia, o assunto do espírito que fazia rir era constante, e tem mais, o espírito tinha até nome, seu godinho. na hora do recreio, quando os professores estavam tomando café, o assunto mais comum era com a disciplina, porque os alunos pequenos estavam rindo muito nas aulas, era o tal de um olhar pro outro e começar a rir baixinho. na verdade, eu achava que era simplesmente coisas da idade. no entanto, uma vez, eu vi uma menina saindo correndo do banheiro, muito assustada e pálida, perguntei-lhe o que tinha acontecido, e ela me respondeu, 'professor, um homem baixinho e gordinho, lá dentro, olhou pra mim e sorriu, deve ser o seu godinho, só pode ser ele, estou com muito medo!'. acontece que, devido ao fato do espírito ser simpático, e não fazer mal a ninguém, os discípulos foram se acostumando com ele. porém, apesar de tudo isso, eu ainda achava que era pura imaginação da meninada, até no dia em que aconteceu comigo. pois bem, era uma daquelas tardes quentes de recreio, eu estava dando aula pra sexta série, uma turma bem pequena, e assim, fui pro quadro, e passei um dever de sala de aula, todos estavam no maior silêncio, dava pra ouvir uma mosca voando, o interessante é que toda a escola estava, também, assim, no maior silêncio sepulcral, se me perdoem a comparação funesta. enfim, tudo estava sob controle, todavia, de repente, uma aluna olhou pra outra, e começou a rir baixinho, em poucos segundos contagiou a sala inteira, sobressaltado, perguntei, 'o que está acontecendo?'. imediatamente, veio a resposta, 'o seu godinho está aqui fazendo a gente rir, ele é muito engraçado!', uns pareciam vê-lo, e riam mais ainda. da minha parte, tive uma sensação muito esquisita, era muito real, não dá nem pra explicar, e, o que mais me chamou a atenção foi que, num passe de mágica, todos pararam de rir, continuando a fazer os exercícios, como se nada tivesse acontecido. foi uma experiência assustadora, donde concluí que tinha vivenciado um momento simplesmente transcendental, o qual nunca mais esqueci.

FOTO: o meu recital, peregrino, no salão do colégio do joão XXIII, em 1980. na frente, minha esposa alice e o meu pai antônio hygino, e no fundo, a dona nice e a dona íris, conferindo as letras das músicas, bons tempos que não voltam mais. 

anibal werneck de freitas, em 15.06.2021

domingo, 13 de junho de 2021

DE COMO A ASSOMBRAÇÃO DOS EUCALIPTOS, DO ALTO DO MORRO DA GROTINHA, DA RUA CONCEIÇÃO E DA AVENIDA SANTA IZABEL, ASSUSTAVA A MENINADA NA MINHA INFÂNCIA.



da casa dos meu pais, antônio e wanda, na rua conceição, dava pra ver os eucaliptos no alto do morro. nas tempestades eles eram assustadores, porque dobravam tanto com a força do vento, parecendo que iam partir ao meio. naquela época, minha rua era simplesmente abarrotada de crianças, hoje com muita tristeza está completamente deserta. da minha faixa etária ainda me lembro dos mais chegados, além do meu irmão marquinho, pedro dorigo, luís carlos dorigo, josé heleno da dona íris, solimar da dona stela, helinho da dona geralda, cirilo da dona armerinda, josé dilton da, dona conceição, neco da dona edir, dante do seu djalma, ruimar do seu toninho dentista, dadino do seu eugênio veloso maquinista da estrada de ferro leopoldina, e outros cujos nomes não me lembro. é bom frisar aqui que o luiz carlos da dona edir, o liga, por ser o mais velho, usava da psicologia pra dobrar a molecada. eu me lembro, uma vez, brincando de faroeste, me amarraram num arbusto e o liga notou que eu não estava gostando, inteligentemente, olhou pra mim e disse com determinação, 'você está um perfeito mocinho do velho oeste!, só sei que na mesma hora aceitei a situação de bom grado. outra vez que eu me lembro, aconteceu com o cirilo. a gente jogava muita bola num campinho situado no morro acima do cartório. certa feita, a bola caiu no mato e ninguém queria pegá-la, aí o liga virou pra turma e disse com voz firme, 'gente, não olhem pro cirilo não!, ele é corajoso e vai pegar a bola!'. não deu outra, rapidinho, ele apareceu com a bola, cheio de carrapichos. na minha infância, existiam muitas quadrilhas e, quando se encontravam, o pau quebrava, era o terror das mães, dos pais nem tanto, cada rua tinha a sua. ainda me recordo do aperto que passei com a quadrilha da avenida, eles correram atrás de mim e só pararam quando eu ganhei a rua conceição. como já mencionei acima, nos anos 50, no cinema só passava faroeste e os gibis reforçavam mais ainda o tema. pois bem, foi assim que tudo começou, uma assombração surgiu nos eucaliptos assustando todo mundo, a gente brincava muito entre as suas árvores, mas quando começava a escurecer, corríamos direto pra casa com medo de encontrar com ela. talvez possa ser a minha imaginação, todavia, ficou na minha memória o que vou contar, vocês sabem que aumento, mas não invento, na verdade, o que narro é sempre uma meia verdade. pois bem, teve um dia em que estávamos brincando de faroeste, e, o tempo passou tão rápido, e, ninguém viu a noite chegar. deste modo, de repente, ouvimos um relincho, e assim, uma assombração, apareceu do nada, assustando todo mundo, foi uma loucura, começamos a descer o morro, gritando, com o que vimos, a imagem ainda está nítida na minha memória, ou seja, o zorro todo de preto, empinando o seu cavalo negro, com uma capa esvoaçante, estalando o chicote de fogo com a mão direita, e com a esquerda, brandindo a espada reluzente. foi apavorante, só sei que depois disso, passamos a brincar longe dos eucaliptos.

NOTA: zorro (palavra do espanhol que significa "raposa") é uma personagem de ficção, criado em 1919 pelo escritor norte-americano johnston mac culley, aparecendo em obras estabelecidas no pueblo de los angeles, durante a era da califórnia espanhola (1769-1821). é bom frisar. duns tempos pra cá, passei a não usar mais a expressão latina, in memoriam, porque pra mim ninguém morre, é a minha crença, respeitando quem acredita na morte.

FOTO: o zorro de capa, espada e chicote, na versão chicana original, porque existe, também, o zorro estadunidense, com o seu parceiro índio chamado, Tonto.

anibal werneck de freitas, em 13.06.2021

sábado, 12 de junho de 2021

ANTONIO ARMINDO, NOSSOS PARABÉNS PELA SUA DATA NATALÍCIA!


em comemoração ao seu dia, escolhi a nossa música, CONCLUINDO, vencedora do I festival da música popular de recreio, mg, em 1971, promovido pelo O JORNAL DE RECREIO,  interpretada por mim e pela violante. 

sendo assim, desejamos a você muita luz nesta nova caminhada,

anibal, alice e filhos. 

quarta-feira, 9 de junho de 2021

UM TESOURO JOGADO NO LIXO.


não sei se você ficou sabendo dessa triste história. todas as letras cifradas, escritas à mão pelos beatles, do famoso lp, sgt, pepper's lonely hearts club band, foram jogadas no lixo, uma a uma, pela datilógrafa contratada para enviá-las à gravadora. foi uma perda irreparável e imperdoável.

terça-feira, 8 de junho de 2021

DE COMO EU FIQUEI ATERRORIZADO COM OS LOBISOMENS, QUE MAIS PARECIAM ENORMES PORCOS SELVAGENS, NUMA NOITE DE QUARESMA, EM RECREIO, MG.

 

quando criança, durante a quaresma, parecia-me que o mundo parava, assim como o do raul seixas na música, o dia em que a terra parou. segundo a igreja, a quaresma representa os 40 dias em que jesus ficou no deserto, sob a tentação do diabo, que queria lhe dar o mundo em troca da sua subserviência. pois bem, a quaresma é um período que vai da quarta feira de cinzas até o domingo de ramos, e, durante ela, os adultos diziam que o mundo estava à mercê das coisas ruins, como almas penadas, mortos saindo do cemitério, lobisomens à solta, mulas sem cabeça, enfim, tudo o que você pudesse imaginar de fantasmagórico. na minha cidadezinha, a criançada, com muito medo, não ficava na rua depois das 6 horas, os pais, por suas vezes, adoravam essa situação. pra você ter uma ideia, os mais velhos não varriam as suas casas, cobrindo com um pano os espelhos, usando roupas escuras, e rezando o dia todo com o terço nas mãos, e, na matriz, o padre cobrindo todas as imagens com um tecido roxo. na verdade, a cidade virava um cemitério de vivos, criando assim, um clima sepulcral. tirando a mula sem cabeça, os lobisomens, que mais pareciam porcos, soltos nas ruas à noite, eram os mais atemorizantes, porque os casos de pessoas, que foram pegas desprevenidas, e mortas por esses animais demoníacos, eram muito comuns. a origem desta lenda está em mateus, 8,28-34: 'os demônios saíram, e foram para os porcos. logo toda a manada atirou-se monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas'. agora, o problema é que na minha terra, eles eram confundidos com lobisomens. continuando, a história que vivenciei foi numa noite escura de quaresma. começou quando me preparava pra dormir. a janela fechada do meu quarto dava pra rua, a casa era antiga, portanto, ela tinha uma pequena fresta. deste modo, pedi a bênção dos meus pais, dei boa noite pros meus irmão, e deitei-me. acontece que de madrugada, acordei com um barulho vindo do lado de fora da casa, precisamente, da rua. muito assustado, olhei pela tal fresta e vi, vocês não vão acreditar, uma manada de porcos passando, pareciam muito com lobisomens, devido aos olhos de um vermelho flamejante muito assustador. o meu coração disparou, e disparou mais ainda quando o último da manada parou, olhou pra trás, virou-se e veio em minha direção, dava pra ouvir a sua respiração ofegante aumentando gradativamente até focinhar a minha janela. entrei em pânico, pensei que ia morrer, e, já debaixo do cobertor, continuei ouvindo o focinhar da fera, por um bom tempo. foi apavorante, rezei um pai nosso e uma ave maria, até aquela coisa ir embora.

asdrúbal barca, em 07.06.2021

sábado, 5 de junho de 2021

DE COMO EU ME SENTI COM A NOTÍCIA DA MINHA MORTE, POR COVID-19, NOTICIADA EM RECREIO, MG, MINHA TERRA NATAL.





ontem, sexta-feira, 4 de junho de 2021, me mataram em recreio, mg, só que eu não dei a mínima, até porque não sou marinheiro de primeira viagem. foi realmente constrangedor, isso eu não nego, vendo a alice, minha esposa, atendendo aos telefonemas de pessoas preocupadas com a falsa notícia, enquanto eu ficava na minha, até porque estava morto. alguns familiares meus foram abordados na rua com a pergunta: 'o professor anibal morreu?'. confesso que é uma notícia que não desejo pra ninguém, não é fácil ver as pessoas comentando a sua morte. felizmente, no meu caso, não senti nada, nem um pouquinho, não é a primeira vez que isso aconteceu comigo. veja bem, quando o meu saudoso amigo e companheiro de ofício, o professor adonai, morreu, a notícia chegou na superintendência de ensino de muriaé, mg, porque naquela época ainda não era em cataguases, mg, de que eu é que tinha morrido, fiquei sabendo semanas depois e pasmem, até missa de sétimo dia mandaram rezar pra mim, é por isso que eu insisto em dizer que a minha alma é uma das mais encomendas do mundo, donde concluo que já estou na eternidade por antecipação. enfim, não me assustei em momento algum com esta fake news, estou acostumado a conversar com a morte todos os dias, já fiz até uma música pra ela. apesar de todo este transtorno, que eu certamente não gostei, quero agradecer aos que se preocuparam comigo, e, parodiando belchior, concluo: ontem eu morri, mas hoje eu não morro!'.

NOTA: uma vez, o famoso cantor, nelson gonçalves, chegou em casa, depois de um dos seus shows, ligou a televisão e ouviu o rapórter dizer: ' o cantor nelson gonçalves acaba de falecer neste momento!". segundo ele, desligou a tv, e, se sentiu como tinha morrido mesmo, foi uma sensação muito ruim, só depois das desculpas do repórter pela falsa notícia, que se acalmou.

VÍDEO: morte, senhora do fim.

anibal werneckfreitas, 05.06.2021

 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

VÍTIMA (Anibal Werneck & Armindo Torres)

 


Música e Letra registradas sob o nº 304/1991, no Sombuque.

DE COMO O CAPITÃO ERNESTO NÃO DEIXOU O SEU RIVAL ELEITO COMO PREFEITO TOMAR POSSE DA PREFEITURA DE GUIDOVAL, MG.

certa feita, fui obrigado a levar minha esposa ao médico, em juiz de fora, e lá, durante a consulta, um doutor já idoso, cujo nome não vou revelar, me contou esta história: 'quando me formei médico, ainda muito jovem, resolvi trabalhar em guidoval, uma cidadezinha no interior do nosso estado de minas gerais, onde, rapidamente, fiz muitas amizades, inclusive com o manda chuva do lugar, o capitão ernesto, homem muito bom, mas só não podia ser contrariado, virava uma fera e, coitado daquele que se atrevesse enfrentá-lo, porque tudo tinha que ser feito do seu modo. sua fazenda era constantemente visitada pelos agricultores mais carentes, e ele nunca deixou de ajudá-los. uma vez, um casal com o filho muito doente, bateu na sua porta, em plena madrugada, e assim, imediatamente, o capitão pegou o seu ford, e os levou até a minha casa, e, graças a ele, a criança foi salva. portando, era assim o dia a dia deste poderoso fazendeiro, na política não tinha igual, raramente um candidato apoiado por ele, prefeito ou vereador, perdia a eleição, e, do contrário, dava sempre o seu troco, doa em quem doer, pois era muito severo, até com a esposa e filhos, todos tinham que seguir a sua cartilha. veja bem, até o páraco padilha, contrariando o bispo, fazia o que ele queria, e, as missas na capela do seu casarão tinha que ser celebrada em português, porque o latim não era a língua da sua gente, as brigas entre ele e a diocese foram tantas, que a igreja resolveu fazer vista grossa, pra evitar maiores conflitos. pois bem, acontece que numa certa ocasião, o padre padilha foi chamado pra participar dum seminário paroquiano, durante 15 dias, e, no seu lugar, veio um jovem sacerdote desavisado, e não deu outra, ao começar a missa na fazenda: 'introibo ad altare dei'. foi logo interrompido pelo capitão ernesto, com a sua peculiar educação: 'pode parar seu padre, pode parar!, aqui a missa tem que ser em português, do contrário, pode voltar pra sua casa paroquial!'. o surpreso ministro de deus, retrucou: 'seu ernesto, eu não posso celebrar a missa em português, são ordens do vaticano'. já raivoso, o capitão foi taxativo: 'estas ordens podem ser pra você, mas pra mim não!, aqui a missa tem que ser em português!'. e assim, pra evitar mais problemas, a missa foi em português. desta maneira, o tempo foi passando sob os seus mandos e desmandos, e, devido a isso, as pessoas foram cansando, e passando pro lado da oposição, que crescia a olhos vistos. com o advento das eleições, a situação política abalou a cidade de guidoval, porque o resultado elegeu pra prefeito, o seu rival, joão marcolino, um comerciante muito querido. revoltado com a derrota nas urnas, o capitão ernesto, meu amigo confidente, me disse que o novo prefeito não iria tomar posse no dia estipulado pelo colégio eleitoral, me pedindo sigilo. confesso que não acreditei que faria isso. dito e feito, no dia da posse do prefeito e dos vereadores, a cidade acordou em festa, com a banda tocando, crianças correndo entre as barraquinhas de salgados e doces, e no céu os fogos de artifícios pipocando. enquanto isso, o prefeito eleito e a família, no saguão da prefeitura, esperavam pelos vereadores, porque sem eles não poderia tomar posse. assim, as horas foram passando e nada deles, como estava demorando muito, as pessoas começaram a se preocupar, a banda parou de tocar, a criançada parou de correr, os foguetes pararam de subir, e um silêncio sepulcral invadiu a praça. vendo tudo isso acontecendo, lembrei-me das palavras do capitão, peguei o meu jipe e fui direto pra sua fazenda. lá, sentado numa cadeira de balanço na varanda, fumando seu cachimbo, parecia que estava me esperando e, antes que eu abrisse a boca, mandou-me entrar sozinho no casarão, obedeci e, à medida que eu penetrava a casa grande, comecei a ouvir, cada vez mais forte, pessoas rindo, cantando e falando alto, e, desta maneira, no último cômodo, fiquei estarrecido, quando vi os vereadores eleitos, bebendo e comendo à vontade, num verdadeiro banquete, digno de um rei, os homens estavam tão bêbados, que não aguentavam ficar em pé, e desta forma, a posse do prefeito, joão marcolino, não aconteceu no dia estipulado, o capitão ernesto cumprira a sua palavra.

FONTE: quem me contou esta história, foi o próprio médico (in memoriam), que a vivenciou.

anibal werneck de freitas, 02.06.2021

VENTO SUAVE (Lenira, Armando e Anibal)