sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

FALENA


- Ela está no bar do outro lado. Só bebe conhaque Dreher. E lá não tem.
Comprou um litro. Entrou no carro, conhaque do lado. Fez o contorno. Estacionou.
- Uma dose de conhaque Dreher – disse, entrando.
- Não tem.
- Não tem? Pode deixar. Tenho um litro no carro.
A garota olhou-o, detrás dos seus quinze anos. O parceiro dela percebeu.
Saiu a garota atrás. Entraram no carro. O homem na mesa teve que tomar pinga sozinho.
No motel, ele pediu que ela tirasse a roupa.
- Só depois de tomar o conhaque.
Tomou seis doses, antes de tirar o lenço da cabeça. O conhaque tirou o resto. Nuinha em pelo.
- Por que você só bebe conhaque?
- Conhaque Dreher.
- Pois é. Por quê?
Ela olhou para o litro de conhaque. Suspirou.
- Quando bebo conhaque Dreher, me sinto como borboleta. Foi assim desde a primeira vez.
- É bom ser borboleta?
- Eu acho. Meu pai queria que eu fosse professora. Mas eu prefiro ser borboleta. Borboleta combina com flores. Adoro flores. Enfeitam a vida da gente. As borboletas também. Gosto de enfeitar a vida dos outros.
- Borboleta tem vida curta.
Ela soltou uma gargalhada estentórea. Tirou um cigarro do maço que estava em cima do criado, ao lado do cinzeiro e da bebida. Acendeu-o. Deu uma longa tragada. Só então respondeu:
- Meu avô tem 82 anos. Nunca fez nada importante. Pelo contrário: sempre foi muito ruim. Minha mãe que disse. E eu comprovei. Foi ele que me tocou de casa. Pela minha mãe, eu ficava. Mas ela teve medo. Meu avô sofre do coração. Ela não quis contrariá-lo. Pediu que eu saísse e que fosse vê-la de vez em quando. Não acho que viver muito seja importante.
- E seu pai? Concordou?
- Já morreu. De tanto beber.
- Conhaque Dreher?
- Não. Cachaça. Faz um mal terrível.
- Conhaque também faz.
- Mas cachaça não me faz sentir como borboleta.
Ela amassou o cigarro no cinzeiro e se aproximou. Ele enlaçou-a pela cintura, puxou-a. Encaixaram-se e rolaram na cama, penetrados.
No instante do orgasmo, ele percebeu uma borboleta fugindo no espelho do quarto.


*12º conto do livro, ATRÁS DO COPO DE CERVEJA, de Armindo de Castro, hoje, Armindo Torres, lançado em 1978, na cidade de Recreio(MG). Na ocasião foi muito criticado pelas autoridades religiosa e política do lugar, de forma injusta, causando danos morais nos envolvidos com a obra, ou sejam, o autor Antonio Armindo de Castro Torres, o prefaciador Marco Antônio Werneck de Freitas e o desenhista da capa Anibal Werneck de Freitas. O livro foi impresso na ESDEVA EMPRESA GRÁFICA LTDA de Juiz de Fora, comandada por um padre, que ficou indignado com essa história. Por outro lado, o livro foi muito elogiado por escritores de vanguarda famosos como Moacyr Scliar, Wander Piroli, Manuel Lobato e outros.
anibalwerneck@gmail.com




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VENTO SUAVE (Lenira, Armando e Anibal)