quinta-feira, 26 de junho de 2014

O FATÍDICO 17 DE ABRIL EM ELDORADO / A PEDAGOGIA DOS AÇOS (PEDRO TIERRA)



Segundo João Pedro Stedile, coordenador do MST da Via campesina Brasil, não podemos esquecer da chacina brutal ocorrida em Carajás, onde 19 trabalhadores foram mortos covardemente pela Polícia Militar, comandada pelo coronel Mário Pantja e pelo major José  Oliveira, que já estava preparada para o evento com fuzis e sem identificação nas fardas. Cercaram os caminhantes e impediram de forma nefasta a marcha do MST que ia até Belém reclamar dos seus direitos com o Governador do PSDB, Almir Gabriel (in memoriam) no governo do FHC.
Final da história, os algozes do comando sinistro foram condenados a 228 anos de prisão, mas foram recolhidos a apartamentos privativos a oficiais em algum quartel de Belém, eles estão melhor do que eu, pois vivo confinado numa apartamento situado numa rua barulhenta e não tenho dinheiro para passear. Este é o Brasil da impunidade!, e tem mais, além dos  mortos, não podemos esquecer que há entre as vítimas 69 feridos com sequelas.
Não dá para torcer pelo Brasil nesta Copa, você vai dizer, Mas isso já passou, não tem nada a ver!. Eu respondo que tem e vou soltar foguete se o Brasil perder o título, quem é patriota não pode ser conivente com um paí como o nosso!
Ainda, conforme Stedile, dezenas de organizações camponesas de todo mundo instituíram o dia 17 de Abril, na II Conferência Mundial no México, em 1996, como o DIA MUNDIAL DE LUTA CAMPONESA!
*Segue abaixo a poesia de Pedro Tierra, escrita em homenagem aos mártires de Carajás, no município de Eldorado, Pará, Pindorama.

A Pedagogia dos Aços

Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajas ...

A pedagogia do aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia ...

Há cem anos
Canudos,
Contestado
Caldeirão ...

A pedagogia dos aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia ...

Há uma nação de homens
excluídos da nação.
Há uma nação de homens
excluídos da vida.
Há uma nação de homens
calados,
excluídos de toda palavra.
Há uma nação de homens
combatendo depois das cercas.
Há uma nação de homens
sem rosto,
soterrado na lama,
sem nome
soterrado pelo silêncio.

Eles rondam o arame
das cercas
alumiados pela fogueira
dos acampamentos.

Eles rondam o muro das leis
e ataram no peito
uma bomba que pulsa:
o sonho da terra livre.

O sonho vale uma vida?
Não sei. Mas aprendi
da escassa vida que gastei:
a morte não sonha.

A vida vale tão pouco
do lado de fora da cerca ...

A terra vale um sonho?
A terra vale infinitas
reservas de crueldade,
do lado de dentro da cerca.

Hoje, o silêncio
pesa como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria.

Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás não cabem
na frágil vasilha das palavras ..

Se calarmos,
as pedras gritarão ...

Brasília,
25/04/96

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