esta história ocorrida no final do século XIX, em conceição da boa vista, é realmente verdadeira, segundo muita gente. tudo começou com o sacristão faustino, baixinho, taludo, ranzinza, mas totalmente dedicado ao seu serviço de sacristão. pra ele era deus no céu e o padre idelfonso na terra. tanto assim que não admitia nenhum erro cometido por parte dos fieis na igreja, e quando acontecia, ele já chegava implicando: "agora não é hora de ficar sentado, e sim, ajoelhado de cabeça baixa, porque o padre está consagrando a hóstia e o vinho, ou seja, o corpo e o sangue de cristo". seu procedimento era assim durante a missa inteira, do introibo ad altare dei até o, ite, missa est, porque naquela época o culto católico era em latim. pra você ter uma ideia, certa vez, o faustino tirou uma mulher do templo, porque ela não estava trajando um vestido adequado ao momento, o marido dela quis tomar satisfação, e o pau quase quebrou. pois é, o faustino não tinha jeito mesmo. no entanto, quando o padre idelfonso chamava a sua atenção, ele acatava a bronca numa boa, todavia, num piscar de olhos, lá estava o faustino fazendo das suas. tanto assim que as beatas sempre reclamavam dele: "seu padre, o faustino nos vigia o tempo todo, e agora deu pra falar que nós somos fofoqueiras". caro leitor, uma pausa, mas cá entre nós, com todo o respeito, nisso o faustino tinha razão de sobra. o problema é que esta situação belicosa entre o faustino e os fieis estava se agravando e isso começou a preocupar o pároco vigente. a juventude, por sua vez, com o arrobo que lhe é peculiar, começou então a hostilizar o sacristão, chamando-o de colete-preto, porque ele usava um colete desta cor constantemente, pois sabiam que este apelido o deixava muito irritado. então, uma vez, em plena semana santa, numa procissão do senhor morto, saindo da capelinha na pracinha até à igreja matriz no alto do morro, aconteceu um terrível inesperado, tudo por causa de uma música sacra muito conhecida naquela época. ela era como um mantra, com os fieis cantando: "os anjos, todos os anjos, os anjos, todos os anjos...", sendo na frente do cortejo, o padre e o sacristão puxando a cantoria. acontece que, num dado momento, uns jovens começaram a mudar a letra: "os anjos, colete-preto, os anjos, colete-preto...". mas pra quê, não deu outra, o faustino, fulo da vida, virou pros engraçadinhos, e revidou: "colete-preto é a p... q... p..., colete-preto é a p... q... p...!", é isso mesmo o que você pensou. enfim, depois desse vexame, em frente à igreja, com o padre totalmente destrambelhado, junto ao esquife, a notícia carece de exatidão, mas que foi assim, foi!
NOTA, na minha infância, esta história era muito contada pelos mais velhos, muita gente jurava a sua veracidade, eu tenho pra mim a nítida certeza de que ela realmente ocorreu. quanto aos nomes e as passagens no texto são pura ficção, é como dizia nelson rubens: "eu aumento, mas não invento". pois bem, naquele tempo, o padre celebrava a missa em latim, de costas pros fieis. a tradução de introibo ad altare dei é, subirei ao altar de deus, e de ite, missa est é, ide, a missa terminou.
FOTO, a pracinha com a sua capelinha, na parte baixa de conceição da boa vista, distrito de recreio, mg.
anibal wf. 26.04.2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário