quinta-feira, 22 de abril de 2021

DE COMO O SACRISTÃO FAUSTINO PERDEU AS ESTRIBEIRAS EM PLENA PROCISSÃO DO SENHOR MORTO, NUMA SEMANA SANTA EM CONCEIÇÃO DA BOA VISTA.


esta história ocorrida no final do século XIX, em conceição da boa vista, é realmente verdadeira, segundo muita gente. tudo começou com o sacristão faustino, baixinho, taludo, ranzinza, mas totalmente dedicado ao seu serviço de sacristão. pra ele era deus no céu e o padre idelfonso na terra. tanto assim que não admitia nenhum erro cometido por parte dos fieis na igreja, e quando acontecia, ele já chegava implicando: "agora não é hora de ficar sentado, e sim, ajoelhado de cabeça baixa, porque o padre está consagrando a hóstia e o vinho, ou seja, o corpo e o sangue de cristo". seu procedimento era assim durante a missa inteira, do introibo ad altare dei até o, ite, missa est, porque naquela época o culto católico era em latim. pra você ter uma ideia, certa vez, o faustino tirou uma mulher do templo, porque ela não estava trajando um vestido adequado ao momento, o marido dela quis tomar satisfação, e o pau quase quebrou. pois é, o faustino não tinha jeito mesmo. no entanto, quando o padre idelfonso chamava a sua atenção, ele acatava a bronca numa boa, todavia, num piscar de olhos, lá estava o faustino fazendo das  suas. tanto assim que as beatas sempre reclamavam dele: "seu padre, o faustino nos vigia o tempo todo, e agora deu pra falar que nós somos fofoqueiras". caro leitor, uma pausa, mas cá entre nós, com todo o respeito, nisso o faustino tinha razão de sobra. o problema é que esta situação belicosa entre o faustino e os fieis estava se agravando e isso começou a preocupar o pároco vigente. a juventude, por sua vez, com o arrobo que lhe é peculiar, começou então a hostilizar o sacristão, chamando-o de colete-preto, porque ele usava um colete desta cor constantemente, pois sabiam que este apelido o deixava muito irritado. então, uma vez, em plena semana santa, numa procissão do senhor morto, saindo da capelinha na pracinha até à igreja matriz no alto do morro, aconteceu um terrível inesperado, tudo por causa de uma música sacra muito conhecida naquela época. ela era como um mantra, com os fieis cantando: "os anjos, todos os anjos, os anjos, todos os anjos...", sendo na frente do cortejo, o padre e o sacristão puxando a cantoria. acontece que, num dado momento, uns jovens começaram a mudar a letra: "os anjos, colete-preto, os anjos, colete-preto...". mas pra quê, não deu outra, o faustino, fulo da vida, virou pros engraçadinhos, e revidou: "colete-preto é a p... q... p..., colete-preto é a p... q... p...!", é isso mesmo o que você pensou. enfim, depois desse vexame, em frente à igreja, com o padre totalmente destrambelhado, junto ao esquife, a notícia carece de exatidão, mas que foi assim, foi!

NOTA, na minha infância, esta história era muito contada pelos mais velhos, muita gente jurava a sua veracidade, eu tenho pra mim a nítida certeza de que ela realmente ocorreu. quanto aos nomes e as passagens no texto são pura ficção, é como dizia nelson rubens: "eu aumento, mas não invento". pois bem, naquele tempo, o padre celebrava a missa em latim, de costas pros fieis. a tradução de introibo ad altare dei é, subirei ao altar de deus, e de ite, missa est é, ide, a missa terminou.

FOTO, a pracinha com a sua capelinha, na parte baixa de conceição da boa vista, distrito de recreio, mg.

anibal wf. 26.04.2021


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