quarta-feira, 3 de março de 2021

JULINHO & DÉLCIO (HOMENAGEM PÓSTUMA)



ainda me lembro muito bem, final dos anos 60, bem cedinho, pegava o meu violão e corria pra casa do seu cafrázio. lá, eu acabava acordando o délcio, o sebastião e o julinho, que dormiam no mesmo quarto, e deste modo, púnhamos a cantar e a tocar os sucessos do então iê, iê, iê!
naquela época, o quarto era o único lugar da casa pra ensaiar. o milton nascimento, também, conta algo parecido, parece-me que era moda, assim presumo. 
pois bem, toda aquela alegria ficou no tempo, tempo em que o sonho era mais forte que a realidade, tínhamos uma imensa estrada pela frente, tudo era muito colorido, o Julinho gostava de tocar sua gaita de uma maneira romântica, e também, de fazer serenata para uma paixão que tinha naquela ocasião. 
deste modo, chegou a ser membro dos selenitas, dando aquela força no que fosse preciso. 
certa feita, ele fez um microfone pra gente com o alto falante do rádio do seu pai. acontece que devido a isso, seu cafrázio apareceu muito nervoso no nosso ensaio, na sede do recreio, e já zangando: Julinho, 'num san', você deixou o meu rádio mudo, não consigo ouvir nada, devolva-me o microfone, digo, o alto falante!
pois é, bons tempos aqueles, todavia, um simples telefonema do meu irmão, marquinho, jogou tudo por terra: estou no velório do julinho, foi tudo de repente.
o interessante é que dias antes, eu falei dele com a minha mulher, alice, ressaltando que ele me chamava de tucanlino, um personagem, criação minha. 
o passamento do julinho  é uma lacuna que deve sempre ser preenchida com boas lembranças.
pois é, como se não bastasse, seu irmão délcio resolveu lhe fazer companhia.
'a morte não permite despedidas, apenas cava buracos em nossas vidas', aprendi esta frase no seriado Sense 8.
sendo assim, mais uma vez, a morte me fez voltar no tempo, justamente no quarto referido acima. lembro-me como se fosse hoje, ano de 1966, eu frequentava a casa dele e todas as manhãs, no quarto de dormir, tocávamos violão e cantávamos as músicas da jovem guarda, donde posso afirmar que os selenitas surgiram a partir daí. 
o délcio era o mais velho dos irmãos e o sebastião o mais novo.
naquela ocasião, o nosso quarto de ensaios ficou tão conhecido, que um belo dia, o guitarrista, josé luiz, do famoso conjunto 'Paladium', apareceu nele e tocou maviosamente, a 'nossa canção' do roberto.
Infelizmente, a dura realidade é que a morte produz verdadeiros buracos negros no nosso universo interior, 'mas não tem nada, não, tenho o meu violão', como nos diz toquinho em cotidiano nº 2. 

anibal werneckfreitas, jf. 04.03.2021

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