uma mulher diabólica tinha um ciúme mortal do marido, um fazendeiro de muitas terras, lá pras bandas de conceição da boa vista.
pois bem, tudo começou quando essa mulher cismou que uma escrava muito bonita estava chamando a atenção do seu senhor e, acostumada a mandar açoitar escravos fujões no tronco com muitas chibatadas, pensou logo em lhe fazer mal: "essa escrava maldita não vai me fazer de boba, vou vigiá-la o tempo todo", e assim, por mais que a vigiasse, nunca descobriu nada, e isso a deixava mais irritada.
certo dia, essa escrava teve um filho, foi o estopim: "isso não vai ficar assim, essa criança só pode ser do meu marido, vou dar um jeito nisso agora!", deste modo, descontrolada, com muita raiva, aproveitando a ausência da mãe, que estava trabalhando na cozinha num dia em que tinha muita gente na fazenda, sufocou o recém nascido e, iludindo a vigilância dos presentes, meteu o corpinho da criança no braseiro do forno, onde se conservou até que o fogo destruísse os últimos vestígios de seu crime.
infelizmente, naquela época, o escravo era como um cachorro, podia ser morto pelo seu senhor e ficar tudo por isso mesmo, a bem da verdade, o negro era considerado um ser que não tinha alma e, a igreja por sua vez, fazia 'vista grossa' à tal barbaridade pra não entrar em conflito com os fazendeiros ignorantes.
como tudo na vida, o tempo passou e quando essa odiada mulher morreu, salvo a família, quase ninguém foi ao seu enterro.
acontece que depois de alguns anos, seu túmulo fendeu-se, e, por uma dessas fissuras, penetrou uma enorme surucutinga que se acomodou nele.
a esse fato, atribuíram fazendeiros e escravos das redondezas, ter a mulher, pela sua maldade, se transformada numa assustadora mulher-cobra, assim como nos conta o seu francisquinho: "pra ela não sair e assustar as pessoas, seu túmulo foi cercado por uma corrente para isolar coisas do outro mundo, mentira ou não, até hoje muita gente supersticiosa tem medo dela quebrar a corrente e sair assombrando o povoado".
nota: dados do texto, colhidos por celso lourenço, no livro, 'sertões dos puris', de heitor de bustamante.
vídeo: música, 'conceição assombração' (anibal wf.)
anibalwerneck@gmail.com
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