domingo, 7 de março de 2021

dona íris coimbra de almeida (1928-2018)



sempre sorridente, dona íris me recebeu em sua casa, frente à dos meus pais, na rua conceição, numa manhã fria de segunda feira, bem cedinho, do dia 10 de maio de 2010, em recreio(mg), para uma entrevista cogitada pelo fanzine, mar de morros. 

vinda de uma família numerosa, e sendo a mais velha, foi logo citando os seus irmãos na devida ordem: 'iolanda, josé, aracy, jairo, roberto, fernando, antônio márcio, heloísa e helena' e em seguida: 'a lenira e a ruth morreram precocemente'.

dona íris nasceu em 12 de novembro de 1928. teve uma infância muito feliz, e recreio ainda era pequenininho. as ruas onde morou foram, joão perillo, major cristiano magalhães, onde viveu a infância, e finalmene, na rua conceição. 

seu pai, o sr. isidoro de almeida coimbra e a sua mãe, isa teixeira coimbra sustentavam a família, através do comércio.

na sua adolescência até a juventude, vivenciou um período difícil, com o avanço do fascismo no mundo até o final da guerra mundial, em 1945. 

sobre esta nefasta situação mundial, ela contou: 'o marco maior foi o término da guerra mundial em 1945. durante o conflito, a gente via muitas mães fazendo trabalhos manuais para mandar pros pracinhas. daqui de recreio foi uma turma pra guerra, e quando terminou, em 8 de maio de 45, foi aquele movimento, foi um 'bum' nas ruas, recreio explodiu, foi realmente um acontecimento com música e tudo mais'.

e deste modo, prosseguiu: 'naquela época tinha a banda do maestro josé lucas, a 1º de maio, que animava as ruas da cidade, o carnaval, que as pessoas acham que era melhor do que hoje, mas eu não acredito nisso, tudo evolui, cada coisa tem a sua época, o carnaval, na verdade, se modificou'.

e, deste modo, continuou: 'anibal, veja bem, hoje temos a internet, a garotada adora, no entanto, sua faixa etária não se entusiasmou tanto assim com esta novidade, não é?, não é todo mundo que gosta, agora, esta meninada já entra pra valer!'

assim era a dona íris, aceitava o novo, mas sempre alertava: 'a internet tem um problema muito sério, mete medo, as mães hoje em dia trabalham fora, os filhos ficam sozinhos em casa, todavia, acho que todo problema é superado'.

quando foi questionada na questão educacional no recreio da sua época, respondeu: 'era tudo muito difícil, aos 12 anos comecei a trabalhar na companhia de leiteria leopoldinense, deste modo, trabalhava de dia e estudava à noite. apesar de tudo isso, recreio tinha sempre uma escola, para alunos do noturno, como, o instituto de ensino recreio novo, onde cheguei estudar, na verdade, recreio nunca ficou sem escola, os meninos que estudavam fora, lecionavam à noite, e rindo, confessou: 'eu já fui aluna do chumbinho'.

sobre o seu casamento com o dr. geraldo damasceno (in memoriam), relatou: 'eu me casei com o chumbinho muito cedo, com 24 anos já tinha 5 filhos, coisa da época, a wanda, sua mãe, também teve filhos cedo. você, a terezinha (minha filha), o pedro da edir, o josé dilton da conceição, o solimar da stela, o ruimar da antonieta..., todos filhos de mães novinhas, todos nasceram e cresceram na rua conceição, depois foram pra fora estudar. nesta ocasião, comecei a trabalhar com o chumbinho, no cartório, e, quando ele ficou na prefeitura, eu o substituía legalmente'. 

e assim, delineou os filhos, do mais velho ao mais novo: 'terezinha helena, josé heleno, eliana, geraldo, maria do carmo e márcia aparecida'.

durante a entrevista, dona íris ainda comentou com muito humor, os casos engraçados que aconteciam no cartório.

muito atualizada, dona íris lia jornais todos os dias, na sua varanda, e estava sempre a par do que acontecia no brasil e no mundo. 

no fim da entrevista, lamentou o passamento da dona nice damasceno: 'a nice não foi uma cunhada que perdi, foi uma irmã, foi muito amiga mesmo. a caminhada que a nice fazia pela manhã, não deixava de passar aqui em casa primeiro, os meus filhos eram também filhos dela. ela me ajudou a criá-los, com todo o carinho, tanto ela, quanto o zaca, seu marido'.

como tudo passa nesta vida, infelizmente, dona íris nos deixou no dia, 17 de março de 2018, aos 89 anos, foi uma vida exemplar, à qual devemos muito e, sendo assim, nosso eterno muito obrigado.

nota: depois da entrevista, ao chegar em casa, minha irmã, ana luísa, aproximou-se de mim e: 'nossa, acabei de sonhar com o chumbinho agora, ele estava muito feliz!'.

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