nos anos 50, em todo 8 de agosto, minha avó ana acordava sempre bem cedinho: "hoje é o aniversário do meu filho antônio, é a data real do seu nascimento, que infelizmente o meu marido francisco registrou no dia 15".
minha avó morava perto da capelinha, que existe até hoje na pracinha, em conceição da boa vista, onde tinha na ocasião um pequeno negócio, além da venda do mel oriundo da sua considerável colmeia, tanto assim, que uma vez me alertou: "filho, não faça muito movimento brusco, pode irritar as abelhas e aí você já sabe o que pode acontecer!".
então, voltando ao primeiro parágrafo, ao sair pra recreio, minha avó pegava sua inseparável sombrinha, subia uma rua íngreme até a igreja, no alto do morro, e sozinha enfrentava a pé uma estrada de cinco quilômetros.
enquanto caminhava, segundo ela, cogitava: "antônio é o meu filho mais velho, foi o primeiro a sair de casa pra me ajudar a criar os irmãos, perdi o meu marido francisco muito cedo, tinha alma de seresteiro, gostava de cantar e tocar violão, deus sabe o que faz, que ele o tenha".
quando o sol começava a esquentar, ela abria a sombrinha e com passos firmes prosseguia a sua trajetória até na entrada de recreio, onde parava pra descansar e, em seguida, retomar a caminhada até a casa do filho na rua conceição.
meu pai tinha um estabelecimento comercial, conhecido por 'café sto. antônio', estava sempre cheio de fregueses, principalmente de conceição e de barreiros, sendo os que não tinham charrete ou cavalo, vinham no caminhão do agostinho e os mais abastados no ford 29 do andrezinho.
desta feita, minha avó ana chegava no estabelecimento do meu pai, não se anunciava, ficava sentada num cantinho do cômodo, numa paciência de jó, vendo o seu filho trabalhando no balcão, esperando a hora de poder se levantar e dar os seus parabéns, era o momento em que minha mãe wanda tomava conhecimento da sua presença, porque estava, o tempo todo na cozinha, fazendo doces e salgados.
minha avó era desse jeito, tinha os seus princípios, não gostava de ser contrariada nas suas decisões, meu pai tentava mudar esse seu comportamento, todavia, em vão, ela só aceitava ajuda na sua volta pra casa, à noitinha.
nota: a música do vídeo, 'quand'eu morrer', era muito cantada pelo meu avô francisco, eu a gravei, graças à minha prima, odete moreira, que a resgatou.
anibal werneck de freitas,
jf, 20.03.2021
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