quinta-feira, 18 de março de 2021

DONA LÍBIA


À
 tardinha do dia 8 de junho de 2009, o Armando Sérgio, o Pedro Dorigo e eu fomos até à casa da Dona Líbia, em Juiz de Fora, para uma entrevista, que se desenrolou muito descontraída, graças ao bom humor da entrevistada.

Dona Líbia Tomasco nasceu em Recreio-MG., no dia 14 de fevereiro de 1922, filha de Antônio Tomasco e Grázia Cardoni Tomasco, uma família numerosa, tendo como irmãos, Carmelita, Itália, Aurélio, Letícia, Yolanda, Maria, Humberto e Renato, de pais italianos, cujos filhos foram registrados somente com o sobrenome do pai, ou seja, Tomasco.

Dona Líbia, como gosta de ser chamada, teve uma infância feliz, cresceu, e casou-se com o Joaquim, fármaco prático, vindo de outra cidade, após dois anos de namoro, no dia 20 de novembro de 1942, e deste enlace nasceram, Ricardo, Raquel, Evandro, Ronaldo e a temporona, Eveline, quando já estava com 42 anos.

Em relação aos netos, Dona Líbia delineou: "Marcelo, Leonardo e Juliana do Ricardo, Luís Otávio, Graziela e Fernanda da Raquel e os bisnetos, Manuela, Maria Luísa e agora um menininho, filho da Juliana, o primeiro bisneto".

Perguntada sobre a sua vida estudantil, respondeu: "Fiz o primário no Grupo Escolar Olavo Bilac, e com 11 anos eu já estava estudando em Leopoldina-MG., no Colégio Imaculada, naquela época eram dois anos de adaptação e três normais, onde fiquei no internato".

Sobre o harmônio que tocava na igreja católica, disse: "Na verdade, eu estudei 5 anos de piano, mas depois que o meu pai morreu, passei a tocar o harmônio da matriz, que é praticamente a mesma coisa".

A respeito do 'Empório Tomasco' do seu pai, ela fez questão de contar a história: "Chegando ao Brasil, meu pai estava destinado a São Paulo, mas aí acabou vindo para Recreio, agora deixe eu contar uma história sobre este 'Empório Tomasco'. Meu pai tinha um sócio, aí ele teve que ir para a Itália para se casar com a minha mãe. E assim ele deixou o sócio tomando conta. Quando ele voltou pra Recreio, minha mãe e minha irmã Carmelita vieram com ele. A viagem demorava três meses, pois bem, quando ele chegou em Recreio, não tinha mais nada, o sócio roubou tudo dele, a loja ficou, mas o estoque foi todo com o sócio. E assim, meu pai começou do nada, fez muita coisa, tinha máquina de arroz e até refinação de açúcar. O interessante é que a primeira luz elétrica em Recreio foi na nossa casa, no registro meu pai é o número 1. Meu pai foi um herói e ainda deixou muita coisa pra sua família quando morreu, meu pai morreu com 60 anos e eu tinha 10 anos. Os negócios do meu pai continuaram com o Humberto, que trabalhava com ele e que continuou com a máquina de arroz  que passou a ser dele depois".

Dona Líbia começou a trabalhar no magistério em 1939, ano em que Recreio passou a ser cidade, no Grupo Escolar Olavo Bilac. Ainda muito jovem, foi apontada pelo partido majoritário na cidade, PSD, pra ser a diretora do 'Olavo Bilac', a princípio relutou, porque as professoras eram mais velhas que ela, mas a própria diretora Dona Lourdes a incentivou pelo fato dela ser muito bem preparada para a exercer o cargo que foi 1950 a 1963, e segundo ela só faltou nos partos, aposentando ao 42 anos de idade. Durante sua gestão, houve um desfile de 7 de setembro de 1958, que ficou famoso na cidade, cujo tema era a 'História do Brasil', desde Cabral até os dias atuais e, quando foi indagada se tinha uma recordação do evento, muito triste, conotou: "Infelizmente, eu só tenho uma foto, a do 'barco do Cabral', naquela época era muito difícil registrar eventos, não era como hoje com o advento da internet".

E olhando pra gente que a estava entrevistando, completou: "Eu me lembro do Marcelo representando o D. Pedro I e de vocês, também. Esta ideia grandiosa surgiu de uma reunião que fizemos, cada uma dava a sua opinião do que gostava, como a Graciema, a Cacilda e outras que não me lembro. A menina do Henrique Zamanha, a Maria do Carmo, por exemplo, além de boa professora, gostava de organizar festas, e então chamou o Seu Nazaré para ajudar no desfile e assim, ele se mostrou um ótimo colaborador, ajudando muito mesmo. E deste jeito, os carros alegóricos foram montados no quintal enorme do Seu Henrique Zamanha, no alto da igreja. Como diretora dei todo o meu apoio, todavia, aconteceu algo terrível, o filme do desfile simplesmente desapareceu, até hoje não me conformo com isso!"

A música sempre foi muito presente na vida da Dona Líbia, sendo assim, ela exprimiu: "Eu comecei com um coral de meninas dos 8 aos 9 anos de idade, eu me recordo da Édna, da Elda e da Marluce, filhas do Seu Nogueira e, também, da Lenira Peres, eu acompanhava o coral no harmônio. Depois disso, eu e o Celino no violino, passamos a acompanhar o coral de adultos da igreja, nas cerimônias religiosas, nas missas de domingo e nos casamentos. Foi um tempo maravilhoso, apoiado pelo Pe. Celso Campos Sales. Nosso repertório era a 'Ave Maria' em latim, a 'Marcha Nupcial' e outras do gênero. As cantoras do coral eram, a Nadir, a Nair, a Niva do Dedé da Carcacena, a Aparecida Lucas, com uma voz muito bonita, filha do grande Maestro Zé Lucas e finalmente, a Tereza do Juca André. Infelizmente, com a mudança do pároco, o coral não foi adiante". 

Já no finalzinho da entrevista, ela complementou: "meu marido, o Joaquim, era fármaco num Recreio que só tinha o médico Dr. Darcy e, por isso mesmo, ele ia além dos seus conhecimentos, salvando vidas como a do Sérgio, da Dona Rita do Bitão, que não melhorava com os medicamentos do Dr. Darcy e, também, a do Seu Caminha, que tomou um tombo enorme do seu caminhão. Sabe como são as coisas, meu marido, diabético, teve de ser internado em Juiz de Fora e deste modo, mudei-me pra cá, onde meus filhos tinham mais condições de estudar.

NOTA: Os dados deste texto-entrevista estão nas páginas 6, 7, 8 e 9, do fanzine Mar de Morros, nº 106, julho-agosto de 2009. Seu filho, o Dr. Evandro, estava presente e nos deu o maior apoio na entrevista.

Anibal Werneck de Freitas, jf, 18.03.2021


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