São 17:37. Estou sentado na minha poltrona do quarto, olhando pro teto, curtindo a minha hora crepuscular, que está se abrindo de maneira suave, fazendo-me levitar em sua direção, e eu estou tranquilo, porque este momento é corriqueiro pra quem está acostumado com ele, do qual se espera tudo que é bizarro, e, nestes momentos eu fecho os olhos, e deixo o barco me levar, só abrindo-os, quando eu sinto ele parar. É inacreditável, estou numa cidade mineira do século 19, precisamente Vila Rica, suas igrejas me parecem bem mais novas, e são muitas, sei disso porque a parte nova da cidade, ainda não existe, e as pessoas usam roupas da época, além do mais, não tem um carro sequer, só carruagens, e mais ainda, na praça central tem uma leva de escravos acorrentados, cerceados por homens conhecidos como capitães do mato, é tudo muito triste, agora, num piscar de olhos, estou numa rua silenciosa da periferia, entrando numa casa de bom tamanho, e sinto-me induzido por uma força estranha, em direção a um quarto quase escuro, me aproximando da única cama no recinto, vendo assim, um homem inerte estendido nela, parecendo-me esperar pela morte, vejo, também, na parede, a imagem, pendurada, de um anjo com enormes asas. Então, observo que o acamado está se mexendo, tentando levantar a cabeça pra dizer alguma coisa, ‘Meu Deus, estou vendo um anjo!’, foram as suas últimas palavras, dando em seguida, os seus suspiros de morte. Pois é, não tive nenhuma dúvida, tratava-se de Aleijadinho, quem sofria de lepra, cuja doença lhe deformou as mãos e os pés, levando-o a uma cegueira total.
Texto
de Amílcar Barca.
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