segunda-feira, 13 de junho de 2022

DE COMO VICENTE, MENINO DE RUA, CRIADO PELO PE. ARRUDA, COMO SE FOSSE FILHO, CHEGOU AO SACERDÓCIO.

 


Vicente foi acolhido pelo Pe. Arruda, quando ainda era um menino de rua.
Seu tutor lhe ensinou a ler e escrever, até em Latim, devido a falta de escola no lugarejo.
Ainda muito jovem, Vicente já falava com desenvoltura, pelo fato do bom conhecimento que recebeu.
Portanto, foi isto que chamou muito a atenção do Bispo Dom Abelardo, durante uma visita à paróquia, o qual lhe ofereceu um estudo no seminário, perguntando-lhe se queria ser padre.
Respondendo que sim, Vicente rumou com o Bispo pro Seminário.
Era noitinha quando foi embora, deixando o Pe. Arruda muito triste, porque afinal, ele o tinha como filho.
Desta forma, todas as vezes que Vicente visitava seu pai adotivo, lhe cobrava: No dia em que eu me ordenar padre, quero o senhor na minha cerimônia.
Desta feita, os anos foram se passando, Vicente crescendo e mostrando muita alegria pela sua escolha de ser um Ministro de Deus.
Por sua vez, Pe. Arruda continuou celebrando suas missas, e, num dia, sentiu-se fraco e desmaiou no altar.
Foi um corre-corre dentro da igreja, os Congregados Marianos correram para acudir o sacerdote, e as Filhas de Maria assustadas, dobraram a reza.
O médico foi chamado urgentemente.
Pe. Arruda, já bem melhor, quis continuar com o ofício, mas ninguém o deixou.
No entanto, havia um outro problema, a Missa tinha sido interrompida na metade, e, naquela época, assim como o Bispo, tinha que celebrá-la todos os dias, mesmo se estivesse sozinho.
Eu me lembro: Quando estava no Seminário, fui muitas vezes ajudar o Bispo Dom Gerardo a celebrar a Missa, no Palácio Episcopal de Leopoldina, era somente ele e eu. É bom lembrar que também era obrigatória a leitura cotidiana do Breviário, (Breviarium Romanum), um manual em Latim, que os clérigos traziam no bolso da batina.
Pois bem, voltando ao Pe. Arruda, este terminou a Missa deitado na cama da Casa Paroquial, rodeado de fieis.
Ao saber do ocorrido, Vicente pediu ao Reitor para visitá-lo.
Tempo vem, tempo vai, a saúde do Pe. Arruda começou a piorar, por causa da doença e da idade avançada, e, sendo assim, acabou entregando sua alma a Deus.
No dia do passamento, Vicente estava na capela do seminário rezando junto com os seus colegas, quando de repente, lágrimas saíram dos olhos de Jesus crucificado, assustando todo mundo.
Ainda sob os efeitos do susto, todos viram o Reitor entrando no santo recinto, dando em seguida a triste notícia de que o Pe. Arruda tinha morrido.
Ao ouvir a fúnebre missiva, Vicente desmaiou no ato, indo parar no hospital, onde ficou uma semana.
Quando recobrou os sentidos, ficou impaciente e muito triste ao saber que o seu querido pai adotivo já tinha sido sepultado.
O tempo passou, e no dia da sua ordenação pra padre, uma estranha e inesperada alegria tomou conta dele, apesar da ausência do seu inesquecível tutor.
E deste modo, no instante em que estava sendo ordenado, viu de novo lágrimas rolando dos olhos do Cristo na cruz, e, desta vez não se assustou, e, como um milagre, sua mente captou: Filho, agora estou chorando de alegria, com muito orgulho de você.
Desta vez foi só o Pe. Vicente, que viu.

Anibal Werneck, JF, 14.06.2022.

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