Então, Justino era um lavrador que quando voltava da roça, já anoitecendo, passava em frente a igrejinha destruída pelo tempo, pertinho da escada que ia até a porta principal, feita de uma madeira de lei, fortemente trancada, e, ninguém do lugarejo ousava se aproximar dela, porque tinha fama de ser mal-assombrada.
Acontece que o Justino não tinha medo da nada, e nem acreditava nessas crendices. Já o Pedro, o Juventino e a Dona Maria, todos diziam categoricamente que tinham visto coisas estranhas por lá, além de lamentos assustadores, como se alguém estivesse sentindo muita dor.
Então, sendo assim, o tempo foi passando e o Justino de volta do trabalho via sempre a fachada da capelinha e a escadaria totalmente sem uma viva alma.
Como tudo tem a sua primeira vez, um dia, voltando do trabalho, já estava bem escuro, Justino viu um vulto sentado no último degrau, mas não se intimidou, aproximou-se e indagou: Desculpe-me a intromissão, você está perdido?, posso lhe ajudar?, você não me parece ser daqui...
O ser estranho todo encapuçado continuou em silêncio, e nem virou o rosto pro Justino que, por sua vez, puxou mais conversa, todavia, o estranho se levantou e caminhou em direção à mata, sumindo na escuridão.
No dia seguinte, Justino contou tudo para o pessoal do pequeno arraial e em troca recebeu várias advertências: Justino, tome cuidado, tem coisas neste mundo perigosas, fique mais atento, coisas assim a gente sai fora, não procure sarna pra se coçar, homem!
Acontece que passaram meses e o ser enigmático não apareceu mais.
Deste modo, Justino continuou o seu trajeto sem nenhum receio, mas, numa noite fria, o misterioso vulto surgiu, e desta vez estava em pé no primeiro degrau, fazendo sinal pro nosso protagonista, que imediatamente se aproximou, sem conseguir ver o rosto do espectro, por causa do capuz. No entanto, já bem perto, Justino perguntou: Quem é você?. A resposta veio com uma voz muito fraca: Eu sou o Padre Gregório Guimarães Barbosa. E, rapidamente, o estranho se afastou e sumiu na mata de novo.
Mais uma vez, Justino contou o que tinha acontecido e muita gente não acreditou. Deste modo, seus conterrâneos resolveram tirar as ruínas, com muito medo por parte de alguns, para limpar a área que dava pra entrada do vilarejo, com o objetivo de acabar com aquelas histórias de assombração.
Pois bem, desta feita, um mutirão foi engendrado para tal fim, e nele, como era de se esperar, estava o Justino. O trabalho foi árduo, e suaram muita camisa. Portanto, quando começaram a tirar o piso bem danificado, o barulho de uma enxada batendo em algo muito resistente, chamou a atenção de todo mundo, e, foi uma correria pra ver o que era.
Perplexos, todos viram uma lápide de mármore com os seguintes dizeres: Aqui jaz na Santa Paz de Deus, Pe. Gregório Guimarães Barbosa, 02/06/1845 a 08/08/1910.
Passado o susto, os ossos do sacerdote foram enterrados no pequeno cemitério da aldeia, e, deste modo, ele nunca mais apareceu pro Justino, que continuou passando tranquilamente no mesmo lugar à noitinha, vindo do trabalho.
NOTA: Esta história se espalhou por toda parte, e muita gente passou a visitar o túmulo do padre. Conta-se que depois disso até milagres passaram a acontecer.
Anibal Werneck, JF, em 07.06.2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário