segunda-feira, 6 de junho de 2022

DE COMO JUSTINO RESOLVEU O PROBLEMA DE UMA IGREJINHA MAL ASSOMBRADA QUE ASSUSTAVA TODO MUNDO QUE PASSAVA POR ELA AO ANOITECER.


No fim das Minas Gerais, onde nem consta no mapa, havia um pequeno povoado de gente muito simples. Lugar muito antigo, que não cresceu economicamente, mas tinha como peculiaridade uma igrejinha em ruinas, com o mato tomando conta, destruindo totalmente o teto e as paredes laterais, deixando apenas a parte da frente à mostra, delineando assim, uma arquitetura portuguesa do século XIX.
Então, Justino era um lavrador que quando voltava da roça, já anoitecendo, passava em frente a igrejinha destruída pelo tempo, pertinho da escada que ia até a porta principal, feita de uma madeira de lei, fortemente trancada, e, ninguém do lugarejo ousava se aproximar dela, porque tinha fama de ser mal-assombrada.
Acontece que o Justino não tinha medo da nada, e nem acreditava nessas crendices. Já o Pedro, o Juventino e a Dona Maria, todos diziam categoricamente que tinham visto coisas estranhas por lá, além de lamentos assustadores, como se alguém estivesse sentindo muita dor.
Então, sendo assim, o tempo foi passando e o Justino de volta do trabalho via sempre a fachada da capelinha e a escadaria totalmente sem uma viva alma.
Como tudo tem a sua primeira vez, um dia, voltando do trabalho, já estava bem escuro, Justino viu um vulto sentado no último degrau, mas não se intimidou, aproximou-se e indagou: Desculpe-me a intromissão, você está perdido?, posso lhe ajudar?, você não me parece ser daqui...
O ser estranho todo encapuçado continuou em silêncio, e nem virou o rosto pro Justino que, por sua vez, puxou mais conversa, todavia, o estranho se levantou e caminhou em direção à mata, sumindo na escuridão.
No dia seguinte, Justino contou tudo para o pessoal do pequeno arraial e em troca recebeu várias advertências: Justino, tome cuidado, tem coisas neste mundo perigosas, fique mais atento, coisas assim a gente sai fora, não procure sarna pra se coçar, homem!
Acontece que passaram meses e o ser enigmático não apareceu mais.
Deste modo, Justino continuou o seu trajeto sem nenhum receio, mas, numa noite fria, o misterioso vulto surgiu, e desta vez estava em pé no primeiro degrau, fazendo sinal pro nosso protagonista, que imediatamente se aproximou, sem conseguir ver o rosto do espectro, por causa do capuz. No entanto, já bem perto, Justino perguntou: Quem é você?. A resposta veio com uma voz muito fraca: Eu sou o Padre Gregório Guimarães Barbosa. E, rapidamente, o estranho se afastou e sumiu na mata de novo.
Mais uma vez, Justino contou o que tinha acontecido e muita gente não acreditou. Deste modo, seus conterrâneos resolveram tirar as ruínas, com muito medo por parte de alguns, para limpar a área que dava pra entrada do vilarejo, com o objetivo de acabar com aquelas histórias de assombração.
Pois bem, desta feita, um mutirão foi engendrado para tal fim, e nele, como era de se esperar, estava o Justino. O trabalho foi árduo, e suaram muita camisa. Portanto, quando começaram a tirar o piso bem danificado, o barulho de uma enxada batendo em algo muito resistente, chamou a atenção de todo mundo, e, foi uma correria pra ver o que era.
Perplexos, todos viram uma lápide de mármore com os seguintes dizeres: Aqui jaz na Santa Paz de Deus, Pe. Gregório Guimarães Barbosa, 02/06/1845 a 08/08/1910.
Passado o susto, os ossos do sacerdote foram enterrados no pequeno cemitério da aldeia, e, deste modo, ele nunca mais apareceu pro Justino, que continuou passando tranquilamente no mesmo lugar à noitinha, vindo do trabalho.

NOTA: Esta história se espalhou por toda parte, e muita gente passou a visitar o túmulo do padre. Conta-se que depois disso até milagres passaram a acontecer.

Anibal Werneck, JF, em 07.06.2022.

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