quarta-feira, 8 de junho de 2022

DE COMO O MELIANTE EUSÉBIO CAUSOU UM ALVOROÇO NA IGREJA BARROCA DE SUA CIDADE DEIXANDO MUITA GENTE FERIDA E ASSUSTADA.



Eusébio era muito parecido com o Jesus Cristo da Via Sacra exposta em quadros na igreja barroca de sua cidade. A idade, a estatura, o rosto, os cabelos longos e a barba, faziam muita gente parar pra vê-lo e exclamar: Nossa, é o próprio em pessoa!.
Apesar de simpático, Eusébio tinha uma reputação muito ruim na comunidade. Gostava de afanar coisas alheias, e estava sempre na Delegacia, onde era solto no dia seguinte, com a promessa de que iria mudar de vida.
O problema é que as pessoas não confiavam nele, e emprego ninguém queria lhe dar.
Sozinho, morador de rua, vivia de esmolas, e de pequenos furtos para sobreviver, era o que podemos chamar, Ladrão de Galinha.
Apesar de tudo, Eusébio ia sempre à igreja para admirar a Arte Barroca. Gostava de ver o trabalho dos artistas barrocos que empregavam realismo, cores ricas e temas religiosos ou mitológicos no teto, principalmente no altar-mor e nos laterais. Era, cá pra nós, fascinado pelos anjinhos tocando trompas.
Por incrível que pareça, ele ficava embevecido com tudo que via, mesmo sem entender nada. Agora, a única coisa que lhe dava medo era a imagem perfeita do Senhor Morto no esquife, parecia ser real. Isto porque as principais características da Arte Barroca são o dualismo, a riqueza de detalhes e o exagero, donde o seu caráter realista e detalhista tem a capacidade de mexer com o emocional das pessoas.
Eu, por exemplo, quando entro numa igreja antiga, viajo o tempo todo, ela me mostra os seus fantasmas por toda parte, eu me sinto no Túnel do Tempo, uma magia do Século XVIII toma conta de mim. Embora seja tudo na verdade uma forma da Igreja mostrar poder, e superioridade sobre nós, pobres mortais.
É bom frisar que a arte barroca é periférica, ou seja, atrás dos painéis dos altares não tem nada, é um pequeno cômodo escuro, assim como as imagens dos santos de madeira, que ficaram conhecidos como, Santo do pau oco.
Pois bem, certo dia, num final de tarde, Eusébio entrou na venda do Seu Francisco, e, aproveitando que não tinha ninguém, foi até a gaveta de dinheiro, colocou tudo num embornal, mas, no entanto, ao sair, foi flagrado por um freguês que gritou: Pega ladrão!, é o Eusébio!
Isto chegou aos ouvidos do dono do estabelecimento, que saiu do mictório e, imediatamente, mandou chamar a polícia. Todavia, infelizmente, o gatuno já estava longe.
Então, já era noitinha, quando Eusébio, fugindo da polícia, teve a ideia de se esconder na igreja, na hora da missa, que estava se avizinhando. E assim, subiu a escadaria, que ainda estava vazia, entrou pelo templo adentro, indo parar no altar, perto do esquife. Foi aí que resolveu, num estalar de dedos, vestir a túnica branca do Senhor Morto, e esconder a imagem atrás do altar-mor. Deste modo, Eusébio deitou-se no caixão e tomou a posição de um cadáver.
Foi tudo muito rápido, porque os fiéis já estavam chegando para assistir a Santa Missa, e, num piscar de olhos, a igreja estava lotada.
Saindo da sacristia, o padre iniciou a missa dizendo: Introibo ad altare Dei, (Subirei ao altar de Deus), porque naquela época a missa era rezada em Latim.
Enquanto isso, Eusébio permanecia imóvel no sarcófago, como se estivesse realmente morto, ninguém não notava nada de diferente.
Num dado momento, um silêncio sepulcral tomou conta de todo mundo, só se ouvia a campainha acionada pelo coroinha.
Neste exato momento, Eusébio já cansado com a posição incômoda do seu corpo, mexeu levemente os dedos, e, foi o bastante pra beata Clotilde perceber, e gritar pra todo mundo: Gente, o Senhor Morto mexeu os dedos!. Dizendo isso, caiu desfalecida, e, como muitos tinham visto, também, um pandemônio veio à tona, com muita gente gritando: Cristo ressuscitou!!!, Cristo ressuscitou!!!
Aproveitando a balbúrdia, Euzébio se levantou, sentou-se no esquife, pra pular dele, que desta maneira, saiu correndo em direção à porta da sacristia, fugindo através das catacumbas do cemitério da igreja, causando assim uma confusão ainda maior.
Enquanto isso, a maioria com muito medo, começou a sair pelas portas da matriz, atrapalhando a polícia concluir o seu trabalho. Muita gente se machucou feio, além dos desmaios que foram muitos.
Final da História, Eusébio, por sua vez, nunca mais apareceu, sumiu no mundo.

NOTA: Até hoje este fato é cogitado pelos mais velhos, e para muitos, Jesus realmente tinha ressuscitado naquele dia.

Anibal Werneck, JF, 09.06.2022.

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