domingo, 13 de junho de 2021

DE COMO A ASSOMBRAÇÃO DOS EUCALIPTOS, DO ALTO DO MORRO DA GROTINHA, DA RUA CONCEIÇÃO E DA AVENIDA SANTA IZABEL, ASSUSTAVA A MENINADA NA MINHA INFÂNCIA.



da casa dos meu pais, antônio e wanda, na rua conceição, dava pra ver os eucaliptos no alto do morro. nas tempestades eles eram assustadores, porque dobravam tanto com a força do vento, parecendo que iam partir ao meio. naquela época, minha rua era simplesmente abarrotada de crianças, hoje com muita tristeza está completamente deserta. da minha faixa etária ainda me lembro dos mais chegados, além do meu irmão marquinho, pedro dorigo, luís carlos dorigo, josé heleno da dona íris, solimar da dona stela, helinho da dona geralda, cirilo da dona armerinda, josé dilton da, dona conceição, neco da dona edir, dante do seu djalma, ruimar do seu toninho dentista, dadino do seu eugênio veloso maquinista da estrada de ferro leopoldina, e outros cujos nomes não me lembro. é bom frisar aqui que o luiz carlos da dona edir, o liga, por ser o mais velho, usava da psicologia pra dobrar a molecada. eu me lembro, uma vez, brincando de faroeste, me amarraram num arbusto e o liga notou que eu não estava gostando, inteligentemente, olhou pra mim e disse com determinação, 'você está um perfeito mocinho do velho oeste!, só sei que na mesma hora aceitei a situação de bom grado. outra vez que eu me lembro, aconteceu com o cirilo. a gente jogava muita bola num campinho situado no morro acima do cartório. certa feita, a bola caiu no mato e ninguém queria pegá-la, aí o liga virou pra turma e disse com voz firme, 'gente, não olhem pro cirilo não!, ele é corajoso e vai pegar a bola!'. não deu outra, rapidinho, ele apareceu com a bola, cheio de carrapichos. na minha infância, existiam muitas quadrilhas e, quando se encontravam, o pau quebrava, era o terror das mães, dos pais nem tanto, cada rua tinha a sua. ainda me recordo do aperto que passei com a quadrilha da avenida, eles correram atrás de mim e só pararam quando eu ganhei a rua conceição. como já mencionei acima, nos anos 50, no cinema só passava faroeste e os gibis reforçavam mais ainda o tema. pois bem, foi assim que tudo começou, uma assombração surgiu nos eucaliptos assustando todo mundo, a gente brincava muito entre as suas árvores, mas quando começava a escurecer, corríamos direto pra casa com medo de encontrar com ela. talvez possa ser a minha imaginação, todavia, ficou na minha memória o que vou contar, vocês sabem que aumento, mas não invento, na verdade, o que narro é sempre uma meia verdade. pois bem, teve um dia em que estávamos brincando de faroeste, e, o tempo passou tão rápido, e, ninguém viu a noite chegar. deste modo, de repente, ouvimos um relincho, e assim, uma assombração, apareceu do nada, assustando todo mundo, foi uma loucura, começamos a descer o morro, gritando, com o que vimos, a imagem ainda está nítida na minha memória, ou seja, o zorro todo de preto, empinando o seu cavalo negro, com uma capa esvoaçante, estalando o chicote de fogo com a mão direita, e com a esquerda, brandindo a espada reluzente. foi apavorante, só sei que depois disso, passamos a brincar longe dos eucaliptos.

NOTA: zorro (palavra do espanhol que significa "raposa") é uma personagem de ficção, criado em 1919 pelo escritor norte-americano johnston mac culley, aparecendo em obras estabelecidas no pueblo de los angeles, durante a era da califórnia espanhola (1769-1821). é bom frisar. duns tempos pra cá, passei a não usar mais a expressão latina, in memoriam, porque pra mim ninguém morre, é a minha crença, respeitando quem acredita na morte.

FOTO: o zorro de capa, espada e chicote, na versão chicana original, porque existe, também, o zorro estadunidense, com o seu parceiro índio chamado, Tonto.

anibal werneck de freitas, em 13.06.2021

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