HOMENAGEM AO SEU CELINO
Juventino e Aparecidinha
Armando Sérgio Mercadante
Juventino estava no quintal de sua casa e sentou-se debaixo do pé de manga espada Estava triste e um acontecimento do passado transformou-se num filme que rodou na sua mente. No filme assistia as retretas e aos ensaios da Lyra 1º de Maio alimentando sempre a esperança de um dia ser músico e tocar bombardino. Num dos ensaios da banda um músico lhe perguntou: Você quer tocar na banda? Eu lhe ensino música. As pernas de Juventino tremeram e seu coração disparou. – Quero sim sinhô! – Vamos combinar o seguinte. Você me procura amanhã no Armazém Santa Terezinha (hoje Casa Santa Terezinha) para acertarmos os detalhes. Não vou cobrar pelas aulas. Sempre amei a música e gosto de partilhar o pouco que aprendi. Só faço algumas exigências: pontualidade, muita força de vontade e disciplina. Tudo vai depender de você. Combinado? – Sim Seu Celino!
As primeiras aulas esquentaram-lhe os miolos. Aos poucos a paciência e a sabedoria do professor foram desfazendo sua dificuldade em entender as partituras que não pareciam mais um amontoado de riscos sem sentido. Solfejava corretamente e aos poucos o bombardino foi se tornando familiar. Celino sorria e incentivava seu aluno: sabia que você não iria me decepcionar. Mais algumas aulas e ensaios e tem um lugar na banda esperando por você. O tempo passou e o sonho realizou-se. Ensaiava e tocava nas retretas O barulho de uma manga que caiu no chão interrompeu suas recordações. A realidade se impôs nua e crua. Seu professor de música existia apenas na saudade e fazia parte da sua vida.
Foi para a sala e colocou para tocar o CD que ganhou do Aníbal: a sala foi tomada pelo som do violino, do violão e de um passarinho que sem saber de nada participou do fundo musical de algumas músicas o que resultou num efeito maravilhoso. A gravação foi feita pelo Anibal numa fita cassete na casa do Celino em 1977 quando tocaram juntos algumas canções. Posteriormente, foi convertida para CD.
Aparecidinha chegou em casa e sentou-se ao lado do seu Chuchuzinho. Foram noventa e cinco anos bem vividos. Fez parte da nossa vida tocando violino nas missas, casamentos. Você sabia que ele começou tocando saxofone? Depois, por problemas respiratórios, se dedicou ao violino. Juventino e Aparecidinha fecharam os olhos e a música entrou suavemente em seus corações.
Nota do autor: ultimamente Celino ficava sentado numa cadeira em frente à Casa Santa Terezinha na parte da manhã. Gostava de conversar com ele. Sentia alegria em falar dos tempos de jovem e sempre enfatizava que Recreio era muito mais animada do que hoje, mesmo na época de distrito. Na nossa última conversa manifestou sua indignação pelo não reconhecimento do valor de recreienses que tanto fizeram por Recreio através de obras e exemplos de vida e que continuam esquecidos. E citou vários nomes. Faço minhas suas palavras.
Celino viveu Recreio com intensidade. Violinista, comerciante aposentado no ramo de secos e molhados, casado com Maria Lúcia Pinho Martins, falecida em 20 de setembro de 2002, com quem teve quatro filhas. Filho de Américo Simão e Amélia Oliveira. Um recreiense que não pode ser esquecido.
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