sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

ARCELINO DE OLIVEIRA SIMÃO (CELINO, 1915-2010)


no dia 11 de novembro de 2010, a terra recebeu em seu seio, o corpo pequeno de um gigante na alma. 

sua partida elegeu o vazio no coração daquele que, como eu, o conheceu de perto. 

celino era um homem que traduzia as pessoas, como a palma de sua mão, acertava em cheio o coração daqueles que dele se aproximavam, com o seu jeito feliz de ser. 

nos bons tempos, celino participava de tudo, gostava de colaborar com o que lhe era proposto, porque antes de refutar ou aprovar qualquer proposta, procurava primeiro entender e aí, sempre batia o martelo. eu mesmo vivenciei isso, porque enquanto muitos ignoravam minha arte, ele sempre me apoiava dizendo: vou levar você pra tocar na minha confraria. e, assim, eu ia, e todos, respeitosamente me ouviam e aplaudiam. 

certa vez, num domingo, no quintal de sua casa, a seu convite, gravei numa fita k-7, os solos do seu violino, tocando músicas famosas e também as minhas, de parceria com o armindo torres, onde na ocasião, tive a honra de acompanhá-lo no violão. foi realmente um convite feliz, graças a ele, temos hoje, talvez, o único registro da sua arte. 

celino era músico até no nome, 'ce' de cello e 'lino' de violino, eu gostava de brincar assim com ele. 

seu conhecimento musical era vasto, aprendi muito com ele: anibal, para escrever música, você deve observar o compasso, oito, dezesseis, trinta e dois e sessenta e quatro, porque música é pura matemática, mas na hora de executá-la, é o som da alma que deve sublimar. 

e, desta maneira, me ensinava pacientemente e com muita sabedoria. por isso, aprendi muito com ele, confesso. 

celino foi um comerciante bem sucedido e, deste modo sustentou sua família, porque a música não lhe oferecia tal condição.

todavia, nunca deixou a música de lado. começou na 'lira 1º de maio', sob a batuta do maestro zé lucas, que deixou história na cidade. 

no início de sua carreira musical, tocou nos conjuntos, 'recreio-jazz' e 'jura jazz', animando bailes de salão. nesta ocasião seu instrumento era o saxofone, do qual foi obrigado a deixar, devido a problemas pulmonares. é bom lembrar que tocou também em blocos carnavalescos.

ainda na música, foram incontáveis as suas apresentações com o violino na voz maviosa da niva do dedé da carcacena, nas reuniões do lions club de recreio, no qual chegou a ser presidente.

em suas andanças musicais, nos anos 50, também fez parte do trio que tocava no coral da igreja 'menino-deus' de recreio, dona líbia no órgão, niva na voz e ele no violino, o instrumento escolhido, pois não afetava os seus pulmões.

antes do saxofone, celino tocou bombardino, tendo como amigos dois grandes músicos recreienses, jair lobo e francisco loçasso.

a partir de 1930, tocou na banda carnavalesca do 'club dos lordes', rival do 'club dos baetas'.

em 1940 optou pelo violino, devido ao seu problema mencionado acima. foi uma escolha interessante, porque o violino é um dos instrumentos mais difíceis, seu segredo se resume em sete posições, somente os virtuosos conseguem fazê-las, mas pra você ter uma ideia, celino conhecia quatro.

celino era apaixonado pelo futebol, torcedor do américa-rj, ajudou a fundar o 'recreio esporte clube', sendo membro da primeira diretoria.

infelizmente nada é perene, tudo está em constantes mudanças.

a indiferença aparente da natureza para com o passamento é angustiante e, quando o corpo desce ao chão, ela mostra a realidade nua do aparente 'nunca mais', pelos menos para os que ficam. todavia, em compensação, temos a de que valeu a pena conviver com uma pessoa, que brilhou como estrela, não no céu, mas aqui na terra. 

sua vida foi um grande exemplo, que ficará, certamente, impregnado em nossos corações.

deste modo, o velório do seu passamento foi na associação comercial de recreio, e, como tudo parece que já está escrito, a única gravação que fiz com ele, se transformou na trilha sonora propagada no alto-falante do carro do linguinha, durante o cortejo fúnebre até o cemitério. 

você não imagina o quanto isso me emociona.

FONTE: os dados aqui erigidos se encontram no fanzine 'mar de morros', nº 116, 2010, nos artigos, 'celino' (anibal werneck) e 'celino, o violino recreiense' (pedro dorigo).  


anibal werneck, jf, 26.02.2021

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