segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Histórias do Dono do Café Sto. Antônio, por Antônio Hygino de Freitas


Os nomes desta história verídica são fictícios, como uma forma de respeito às famílias, porque trata-se de jovens, gente boa, mas baderneiros, que quando bebiam, gostavam de atirar nas árvores, e nos botequins, pra cima, furando o teto de balas, como no Velho Oeste.
Eles eram cinco, José, Ricardo, Renato, Francisco e João, cada um trazia a sua arma na cintura.
Pois é, eu tinha o meu estabelecimento na Rua Conceição, onde eu vendia cachaça, cerveja, refrigerantes, além de um tira-gosto muito cobiçado, pão de sal com pernil de porco. 
Pois é, esta turma eu já conhecia muito bem, desde quando eu trabalhava no Bar Oriente. 
Eu me lembro que uma vez, eles criaram uma confusão do diabo, neste bar famoso de Recreio, e eu tive que pular pra debaixo do balcão, pra não levar um tiro. Foi realmente um faroeste. Acontece que eles não atiravam em ninguém, mas do jeito que estavam bêbados, eu poderia levar um tiro. 
Naquela época, década de quarenta, o Castrinho, cujo nome não é fictício, vendia armas de fogo, que ficavam expostas na vitrine da sua loja, pois não eram proibidas, qualquer um podia comprar uma, desde que tivesse dinheiro.
Pois bem, acontece que eu saí do Bar Oriente e montei um botequim, que tinha espaço pra duas mesas e um reservado, onde ficavam pessoas bebendo escondido.
Já esta turma do barulho, era completamente diferente, gostava de ficar bebendo sob os olhares de quem passava na calçada.
Quando montei o meu negócio, não deu outra, a turma apareceu para inaugurar, e, assim que eles entraram, reuni toda a coragem que tinha e fui logo falando, Sejam bem vindos, mas, por favor, não repitam aqui o que fizeram no Bar Oriente. 
Enquanto falava, eles foram se acomodando nas mesas e o mais calmo respondeu, Não, seu Antônio Hygino, viemos em paz e estamos aqui só pra beber.
Conversa vai, conversa vem, e põe cerveja nisso, de repente, um deles sacou da arma e apontou para o companheiro, que fez a mesma coisa, pensei comigo, é hoje!, foi aí, que vi ambos atirando pra cima e lá se foi o meu teto de esteira com dois furos de bala. A partir daí, foi uma algazarra tremenda, aquilo fora combinado, todavia eu levei um susto tão grande que gritei com eles pra não continuarem deste jeito. 
Deste modo, por incrível que pareça, eles ficaram quietos e pediram mil desculpas, prometendo reparar os danos, porque o chão estava repleto de cacos de vidro das garrafas.
Depois de um bom tempo, eles apareceram de novo, só que desta vez, cada um me entregou a sua arma pra eu guardar. 
E com este costume correto, que perdurou por muitos anos, eu não tive mais trabalho com eles.

Nota, História extraída do fanzine, Mar de Morros, nº 39, de outubro de 2002, página 11.

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