quinta-feira, 11 de abril de 2019

EU E O GOLPE DE 64 [III]


Comecei a dar aula antes dos 20 anos, porque naquela época, poucos professores eram formados, eu tinha o Curso Normal. Sendo assim, na primeira escola que lecionei em Recreio foi a da CNEC, uma escola comunitária e, aproveito o momento pra dizer que sou eternamente grato ao Hudson Cunha (in memoriam), porque foi ele quem abriu as portas do magistério pra mim. Pois bem, naquele tempo existiam duas notas para os alunos, uma pela matéria e a outra pelo comportamento. Era um sistema muito severo. Se um aluno fosse expulso da escola, ele estaria expulso no Brasil inteiro, ou seja, nenhuma escola poderia readmiti-lo. Pois é, depois desta introdução, vou contar o que me aconteceu em relação ao sistema ditatorial em que vivíamos. Uma aluna minha dava muito problema na sala de aula e não gostava de estudar. Um dia, durante uma prova, eu a peguei colando, imediatamente tomei a prova das mãos dela. Nervosa, ela faltou com o respeito acintosamente. Não perdi tempo e lhe dei dois zeros. Tive que agir assim pra não perder a moral perante meus discípulos. No dia seguinte, o pai dessa aluna apareceu na escola me pedindo pra tirar os zeros. Tirei um, mas o do comportamento ficou, tinha que mantê-lo, mas o pai dela não gostou. Pior, começou a me pressionar na rua, de modo agressivo, pra eu tirar o zero. Deste modo, mantive firme no meu propósito, mas um dia ele se aproximou de mim, novamente, com uma folha de papel nas mãos, onde estava escrito, Tucanlino na Lua Comunista. Não sei como ele conseguiu essa informação. Na verdade, eu sempre gostei de fazer histórias em quadrinhos e nunca fui de mostrá-las pra ninguém, eu gostava muito de ficar desenhando no meu canto. Pois é, acontece que os dizeres no papel estavam corretos, eu estava, realmente, desenhando uma aventura, em quadrinhos, do Tucanlino na Lua Comunista. Conclusão, não me lembro se tirei o zero, todavia, nunca esqueci da ameaça perigosa que sofri. Até a família desse pai agressor ficou do meu lado, porque muita gente ficou sabendo. No entanto, foi um momento de terror que eu sofri com aquele homem me ameaçando na frente dos outros. Escapei dessa por pouco. Mais tarde, fiquei sabendo, através do seu próprio filho, que gente da família pediu pra ele parar com isso.

NOTA, Pois é meu caro, até você que é a favor da ditadura poderá passar pelo que eu passei, caso ela volte.

Anibal Werneckfreitas, em 12/04/2019.

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