domingo, 16 de abril de 2023

DE COMO UM FANTASMA DE MULHER VESTIDA DE BRANCO, CHORANDO NO CHAFARIZ, DA PEQUENA PEDRA DO OURO, ASSUSTOU TODO MUNDO, FOMENTANDO, TAMBÉM, O TURISMO, E TRAZENDO DINHEIRO PARA O LUGAR. [CONTO QUE TE CONTO]


Pedra do Ouro era um lugarejo, muito antigo, com cerca de 360 almas, encravado nas montanhas de ferro, no centro das Minas Gerais, vivendo somente do turismo, datando-se do século XVIII, na época da corrida do ouro.

No entanto, o que atraía mesmo os turistas não era praticamente a sua origem gloriosa, mas sim, a lenda da moça que aparecia de madrugada, chorando, sentada na mureta do chafariz, localizado numa pracinha, rodeada de casas.
Até hoje, o chafariz ainda é muito comum nas cidades históricas mineiras, originalmente eles serviam como fonte de abastecimento da população das cidades, mas acabaram se transformando em obras de arte, como o Chafariz Marília de Dirceu, em Ouro Preto.
Os chafarizes sempre foram um marco importante para o turismo, porque eles nos passam a curiosidade de saber como os antigos os utilizavam, e há quem diga que muitos lavavam o rosto, as mãos e até os pés, todavia, isso é uma outra história.
Então, como já mencionei acima, o caso da moça chorando era a principal atração de Pedra do Ouro.
Realmente alguns visitantes diziam ter visto uma moça, com um vestido longo e branco, chorando muito, já outros, ter ouvido apenas o choro, e os demais, nem uma coisa e nem outra.
O povo da vila já estava calejado com esta situação fantasmagórica, até porque, trazia muitos dividendos, através dos turistas.
Todavia, uma preocupação mais forte que o dinheiro, perturbava as pessoas de Pedra do Ouro, porque não fazia sentido viver da desgraça de outrem, mesmo se tratando de uma alma penada.
Desta feita, num dia de muito sol e céu azul, apareceu um homem na localidade, procurando uma pousada para passar uma temporada.
Seu nome era Amílcar, e pretendia escrever mais um livro, sobre histórias do outro mundo, e, como todo escritor, precisava de um lugar tranquilo pra escrever.
Desta forma, se inteirou rapidamente, com a gente do lugar, e com isto, se interessou em pesquisar o fenômeno já famoso, de Pedro do Ouro.
Pra iniciar o seu trabalho, Amílcar entrevistou pessoas que ouviram e viram a moça chorando, e assim, foi tirando as suas conclusões.
Numa madrugada de Lua cheia, Amílcar acordou com um choro feminino, correu logo pra janela, e viu uma mulher toda de branco, no chafariz.
Como estava no segundo andar, desceu apressadamente a escada, mas quando ganhou a rua, não havia mais nada.
Decepcionado, voltou pra cama, e quando acordou, o Sol já ia alto.
Um pouco atordoado com o que viu, Amílcar pediu um café bem forte, e, após comer um pão com manteiga, foi direto pra rua, onde ouviu algumas pessoas meio assustadas dizendo: Você ouviu a mulher chorando? Não, não ouvi, mas vi uma mulher de branco no chafariz!
Aproveitando o momento, o escritor começou então a entrevistar todo mundo, com o seu celular.
O povo de Pedra do Ouro já estava acostumado com este alvoroço matutino.
Por sua vez, Amílcar resolveu escrever o seu livro, sobre o que estava vivenciando.
Mediante a tudo isso que estava acontecendo, Amílcar teve a ideia de procurar o sacerdote local, para ouvir a opinião do Ministro de Deus, sobre o caso da aparição.
Padre Boanerges, meio desconfiado, o recebeu educadamente, pronto para responder, dentro das suas possibilidades.
Depois do convite para um cafezinho na casa paroquial, ambos começaram a conversar: Padre, o senhor acredita nesta história da moça do chafariz? Claro que não, meu filho, até porque a Igreja não aceita estas crendices de almas do outro mundo. Mas, padre, eu ouvi o choro, e vi a mulher no chafariz! Meu amigo, você está muito sugestionado pelo caso, e além do mais, você tem a imaginação fértil, porque é um escritor, veja bem, eu moro neste lugar a muito tempo, e até hoje nunca ouvi o tal choro e, muito menos, vi a moça!
A conversa com o sacerdote não durou muito, e Amílcar voltou pro seu quarto, na pensão, com a nítida sensação de que tinha perdido o seu tempo.
Mentira ou não, o escritor continuou a averiguar o caso da moça.
Acontece que depois deste dia, a donzela não chorou e nem apareceu mais, e, depois de vinte dias, as pessoas já não queriam ficar mais em Pedra do Ouro, vocês sabem, gente é assim, tem medo, mas se sente bem com ele, principalmente quando se trata de assombrações, e esta era das boas.
Amílcar também se sentiu desmotivado, e resolveu passar mais uma noite no arraial.
Mas as coisas não pararam por aí. Lá pelas tantas da madrugada, Amílcar acordou com passos subindo a escada em direção à porta do seu quarto, acompanhados de uma luz muito forte, que surgiu por debaixo da porta, clareando todo o recinto, antecedendo assim, a uma voz cavernosa de mulher: Amílcar, você mexeu com o que não devia, agora aguente as consequências!
Dizendo isso, a coisa tinhosa desapareceu com a luminosidade, e uma escuridão tenebrosa tomou o seu lugar.
Há quem diga que depois dessa noite, Amílcar nunca teve mais sossego, não só ele, mas todos os que visitaram Pedra do Ouro, bem como as pessoas do lugar, inclusive o Padre Boanerges.
Então, mais pra frente, fiquei sabendo, também, que toda pessoa que conhecia esta história macabra, passou a receber visitas desta funesta a partir das 3hs. da madrugada.
Não querendo ‘assumbrá vosmicês’, como diz a matuto mineiro, por incrível que pareça, tem noite que eu acordo de repente, e vejo o meu quarto escuro, com a presença de uma mulher sinistra nos pés da minha cama, olhando pra mim, e desaparecendo imediatamente, pode acreditar!

NOTA: Infelizmente, o mundo é assim, muita gente é vítima, sem ter feito nada de ruim contra o algoz, é a maldade pura em ação, regada de ódio, adubada pelo esterco de gente infeliz.

Anibal Werneck de Freitas, em 16.04.2023

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