“O Tico, o Rafa, o Tiquito e um outro, cujo nome
não me lembro, vinham pro Café Sto. Antônio, na Rua Conceição, e começavam a
beber. Só bebiam, e não tinha esse negócio de mulheres com eles não, eram só
beberrões. Uma vez, eu disse pro Rafa não beber mais do jeito que ele bebia no
Bar Oriente, porque agora o estabelecimento era meu. No entanto, ele continuava
o mesmo, os colegas zangavam com ele pra não desrespeitar a casa dos outros, mas
mesmo assim, ele batia na tecla de sempre. Digo isso, porque quando eu
trabalhava no Bar Oriente, ele dava tiros pra cima, e ninguém ficava no balcão,
era uma coisa terrível, parecia aqueles salões do Velho Oeste. E como se não
bastasse, além dessa Turma da Garrucha, tinha o Silão que vivia enchendo os
córneos de cachaça, e implicando o tempo todo com um tal de Arlindo, outro que
só bebia água que passarinho não bebe, de modo que isso os levava sempre a uma
discussão, que acabava num duelo, com ambos sacando as armas. A sorte é que um
não atirava no outro, atiravam pro alto. Se eram combinados a fazer isso, eu
não sei, só sei que assustavam todo mundo, parecia coisa de cinema. Não sei se
é bom lembrar tudo isso, mas vamos lá. Haviam também brigas por causa de
mulher, principalmente entre boiadeiros, que tocavam o gado lá pras bandas de
Conceição da Boa Vista, e que sempre chegavam no Bar Oriente, gritando, ‘Me dá
uma cerveja aí!’. Felizmente, com esse pessoal, a ordem do dono do bar prevalecia,
‘Olha, nós estamos aqui é pra atender os fregueses, se estão querendo brigar,
brigam lá fora, porque já estou fechando o bar!’. E assim encerrava o
expediente, todavia, lá fora a briga continuava. O Bar Oriente, por sua vez,
tinha o forro sempre furado de balas, estava constantemente sendo consertado. Tanto
assim que, até no Café Sto. Antônio, meu estabelecimento, fizeram isso uma vez,
mas eu me zanguei com eles, e cheguei a ameaçar dar parte, e, a partir daí, todos
tinham que me entregar as garruchas. O Tiquito era o mais calmo, nunca chegou a
dar um tiro. Então, como você está vendo, vivi um tempo brabo, que parecia um verdadeiro Faroeste”.
NOTA: Quando eu era menino, eu via armas expostas
na vitrine da loja do Castrinho, naquela época qualquer um podia comprar uma, no
entanto, é lamentável pensar, que hoje estão querendo um Brasil assim, ou seja,
um país retrógado. Agora, é muito triste lembrar: O Rafa, pelo fato de beber
muito, morreu atropelado pelo trem, no pontilhão da Rua São Joaquim. Por isso,
os nomes verdadeiros do texto foram substituídos pelos fictícios, pra manter a
privacidade das famílias.
AWF, 19.11.2022
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