sábado, 19 de novembro de 2022

DE COMO A TURMA DA GARRUCHA E AS BRIGAS DE BOIADEIROS ASSUSTAVAM AS PESSOAS NO BAR ORIENTE, NO CAFÉ STO. ANTÔNIO E NAS RUAS DE RECREIO-MG, NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX.

 



 Este é mais um causo verídico que o meu pai gostava de contar:

“O Tico, o Rafa, o Tiquito e um outro, cujo nome não me lembro, vinham pro Café Sto. Antônio, na Rua Conceição, e começavam a beber. Só bebiam, e não tinha esse negócio de mulheres com eles não, eram só beberrões. Uma vez, eu disse pro Rafa não beber mais do jeito que ele bebia no Bar Oriente, porque agora o estabelecimento era meu. No entanto, ele continuava o mesmo, os colegas zangavam com ele pra não desrespeitar a casa dos outros, mas mesmo assim, ele batia na tecla de sempre. Digo isso, porque quando eu trabalhava no Bar Oriente, ele dava tiros pra cima, e ninguém ficava no balcão, era uma coisa terrível, parecia aqueles salões do Velho Oeste. E como se não bastasse, além dessa Turma da Garrucha, tinha o Silão que vivia enchendo os córneos de cachaça, e implicando o tempo todo com um tal de Arlindo, outro que só bebia água que passarinho não bebe, de modo que isso os levava sempre a uma discussão, que acabava num duelo, com ambos sacando as armas. A sorte é que um não atirava no outro, atiravam pro alto. Se eram combinados a fazer isso, eu não sei, só sei que assustavam todo mundo, parecia coisa de cinema. Não sei se é bom lembrar tudo isso, mas vamos lá. Haviam também brigas por causa de mulher, principalmente entre boiadeiros, que tocavam o gado lá pras bandas de Conceição da Boa Vista, e que sempre chegavam no Bar Oriente, gritando, ‘Me dá uma cerveja aí!’. Felizmente, com esse pessoal, a ordem do dono do bar prevalecia, ‘Olha, nós estamos aqui é pra atender os fregueses, se estão querendo brigar, brigam lá fora, porque já estou fechando o bar!’. E assim encerrava o expediente, todavia, lá fora a briga continuava. O Bar Oriente, por sua vez, tinha o forro sempre furado de balas, estava constantemente sendo consertado. Tanto assim que, até no Café Sto. Antônio, meu estabelecimento, fizeram isso uma vez, mas eu me zanguei com eles, e cheguei a ameaçar dar parte, e, a partir daí, todos tinham que me entregar as garruchas. O Tiquito era o mais calmo, nunca chegou a dar um tiro. Então, como você está vendo, vivi um tempo brabo, que parecia um verdadeiro Faroeste”.

NOTA: Quando eu era menino, eu via armas expostas na vitrine da loja do Castrinho, naquela época qualquer um podia comprar uma, no entanto, é lamentável pensar, que hoje estão querendo um Brasil assim, ou seja, um país retrógado. Agora, é muito triste lembrar: O Rafa, pelo fato de beber muito, morreu atropelado pelo trem, no pontilhão da Rua São Joaquim. Por isso, os nomes verdadeiros do texto foram substituídos pelos fictícios, pra manter a privacidade das famílias.

AWF, 19.11.2022

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