Sua esposa, com quem teve uma filha, “abotoou a casaca” há 27 anos, num desastre de trânsito. Desde então, sentia-se melancólico, entristecido, por não ter alguém que o confortasse, que o amparasse, por não poder parar de envelhecer. Só, ele passava praticamente trancafiado em sua casa, ouvindo em sua velha vitrola os antigos sucessos de seus tempos de mocidade. Mas acreditava que havia uma maneira de morrer sem se parecer velho. Já estava com os seus 82 anos. Sua expressão engelhada o atormentava dia a dia. Pensou em ser vampiro, mas nunca encontrou um para mordê-lo. Assistiu Highlander e se animou, mas era ficção. Quando começou a se preocupar com a velhice eminente, desejou “parar no tempo” e ser como o garoto Peter Pan, mas percebeu que seu desejo estava tão distante quanto a “Terra do Nunca”. É! No fundo sabia que não havia saída! Pensou também em se congelar, quando ainda novo, mas como iria morrer jovem-velho se estivesse congelado. Não iria ao menos viver para finar-se. Plástica não funcionaria, pois queria alcançar seu sonho naturalmente. E passavam as horas, os dias, os meses e os anos, e ele foi se arrependendo mais e mais.
Num domingo nuvioso, enquanto voltava para sua casa levando o jornal que acabara de comprar, “bateu”, distraído, numa ‘bela coroa” e se apaixonou instantaneamente. Foi paixão à segunda vista (a primeira foi pela esposa falecida). Ela era realmente muito bonita, e para o seu espanto estava com 62 anos, porém, não aparentava sua experiência. Casou-se com ela no segundo encontro, afinal, como ele mesmo afirmara, “não havia tempo a perder”. Viveu com ela por longos 20 anos – pelo visto houve tempo de sobra – até que chegou o momento dela o deixar. Novamente, Seu Bastão se viu abandonado e ainda mais velho. Estava agora com 102 anos. E passava todo o tempo pensando em como deixaria a vida para enfim morrer jovem estando velho.
Seu neto, muito criativo e sempre preocupado com o avô, numa de suas frequentes visitas chegou animado dizendo ter encontrado a solução para a sua velhice: “Vô, encontrei a fonte da juventude!”. Cansado e já sem expectativas de alcançar seu, até o momento, inalcançável sonho, resolver seguir o neto, pois não teria nada a perder mesmo.
O neto então o levou até o local, com o intuito de fazer com que Seu Bastião apenas se divertisse um pouco pescando com ele. Chegando lá, o velho se viu num belo descampado cujo centro era ocupado por um pequeno lago. Pensou: “Então esta é a fonte da juventude”. Repentinamente foi tirando a roupa, e aproveitando a distração do neto jogou-se no lago e começou a afundar. Naquele momento, percebeu finalmente que seu neto “acertara na mosca” quando afirmara que era a “fonte da juventude”. Morreu como uma criança que ainda não sabe nadar.
NOTA: Filipi teve como tutor para esta estória, Zé do Caixão, e só nadava na parte rasa das piscinas infantis.
Filipi Machado Werneck de Freitas, em 16.01.2022
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