segunda-feira, 16 de março de 2020

O OSSO DO CABRALINHO


Cabralinho era um homem de meia idade e baixinho, quando bebia, ficava muito embriagado, mas nunca caía. 
Pois bem, tudo começou numa noite muito escura. 
Seu Quirino, dono do boteco, onde ele frequentava assiduamente, o chamou e disse, Cabralinho, vá agora ao cemitério e traga-me um osso qualquer, se tiver coragem.
Já bem calibrado, Cabralinho respondeu, Uai, é pra já! Pode deixá que eu vou buscá esse osso! Falando isso tomou mais um gole e saiu correndo como um louco. 
O caminho era longo e ia até à igreja e ao cemitério, no alto do morro.
Seu Quirino, como era um homem muito brincalhão, pegou um lençol branco, que estava de baixo do balcão e partiu atrás, indo por um atalho, que poucos conheciam. 
Chegando primeiro, rapidamente se enrolou no lençol e ficou esperando o Cabralinho, atrás de um túmulo.
Quando ele, o Cabralinho, chegou no cemitério, ao aproximar-se de um  forno, lugar onde ficavam ossos desenterrados, ouviu uma voz cavernosa,  Cabralinho, não mexe em nada!!!
Como Cabralinho não se assustava facilmente, começou a mexer nos ossos. Cada um que pegava, ele ouvia, Não, este aí é da minha avó!!!, este é do meu avô!!!, este é do meu pai!!!, este é da minha mãe!!!. 
No entanto, quando ele pegou um osso, Quirino se levantou atrás do túmulo e como um fantasma, berrou, Este osso é meu!!!, este osso é meu!!!  E assim, Cabralinho ficou tão assustado, que saiu do cemitério como um louco, mas com o osso agarrado no peito. 
Imediatamente, Quirino foi pelo atalho e chegou no seu boteco, bem na frente do Cabralinho, e, deste modo, calmamente, foi pro balcão, no exato momento em que Cabralinho apareceu, com o coração na boca, e, sem desconfiar de nada, jogou o osso no balcão e falou, Taí o osso que você queria, me dá meu dinheiro pra cá! 
O pessoal não acreditava no que via, o osso estava realmente encima do balcão. 
É bom lembrar que esta história foi contada muitas vezes em Conceição da Boa Vista. Mas, por causa dela, surgiu uma grande pergunta, Quem teve a coragem de levar o osso de volta pro cemitério?.

FONTE: História contada pelo meu pai, Antônio Hygino de Freitas, registrada na página 4, do fanzine, Mar de Morros, nº 40, de Novembro de 2002.

Anibal Werneck de Freitas, em 17.03.20. 

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