quinta-feira, 18 de abril de 2013

A CAÇADA [Jairo Machado]





Tudo leva a crer que a mais antiga denominação das constelações (conjunto de estrelas) surgiu com os povos da Mesopotonia, onde as noites tranquilas e estreladas facilitava a observação dos astros. Hoje, quase ninguém olha para o firmamento e, quando olha, não pode observar os astros devido à poluição luminosa das lâmpadas elétricas ou a fumaça originária da queima dos combustíveis fósseis.

Na antiguidade, os astrônomos achavam que a Terra ficava no centro de uma esfera de cristal. Essa esfera celeste era cortada por inúmeros círculos que serviam como pontos de referência. A trajetória aparente do Sol na esfera celeste era chamada de eclíptica. Movimentando na eclíptica o Sol parava nos extremos (solstício) assinalando o inverno e o verão. No meio dessa trajetória, havia um dia que durava o mesmo tempo que a noite (equinócio) da primavera e outono. Dividindo tal esfera celeste em doze partes, cada uma delas valendo 30 graus, criou-se o Zodíaco – muito útil para a navegação e agricultura.

As constelações tinham nomes mitológicos porque nossos ancestrais acreditavam que todo o sistema era comandado por deuses. Os babilônios assinalavam a constelação de Touro como o início do ano, ou seja, equinócio da primavera. Ainda hoje, usamos o zodíaco para assinalar muitas datas do nosso calendário. Por exemplo, sexta-feira da paixão é comemorada na primeira Lua cheia depois do equinócio da primavera no oriente. Por isso que a cada ano a comemoração da semana santa muda de data, do mesmo modo, o carnaval.

As lendas astrológicas da Mesopotâmia, Caldeia, Grega, Romana, Cristã, continuam a manter nossas crenças. Os solstícios são comemorados nas festas juninas e no natal. No equinócio de primavera no calendário cristão se comemora a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Nesse dia, todos rezam e existem proibições que eram cumpridas religiosamente por meus antepassados (bisavós, avós e tios avós). As filhas chamadas Maria não podiam pentear os cabelos, os meninos não cantavam, gritavam ou arrastavam cadeiras para não acordar Jesus. A noite aparecia o lobisomem uivando e comendo fezes de galinhas. Caçar na sexta feira santa nem pensar. Quem desobedecesse era castigado indo diretamente para o inferno, sem passar pelo purgatório.

Meu amigo, Marcus Colbert, relata que seu tio Michel (apelidado seu Sempre) era um eminente caçador. Para isso, tinha uma perfeita espingarda e uma competente cachorra, Violeta, especializada em caçar paca.

Seu Sempre apreciando a lua cheia, naquela sexta-feira santa, viu  Violeta inquieta junto a seus pés, lembrou da proibição da mãe e decidiu naquela noite desobedecê-la. Fingindo passear na praça da cidade embreou-se na mata, espingarda a tiracolo, Violeta abanando o rabo.

O sucesso da caça estava garantido. Ninguém mais estaria na mata. Até as pacas deveriam saber pelo brilho da lua cheia e o uivar dos lobisomens que os caçadores medrosos estavam enfurnados em casa comendo canjica ou fazendo suas preces. Seu Sempre se postou na trilha por onde a paca passaria, engatilhou a espingarda, ficou atento ao latido da cadela levantando a caça. Muito mais rápido do que se podia supor surge uma paca ofegante, olhos faiscando pelo brilho lua e cumprimenta o caçador:

- Boa  noite seu Sempre.

E entra na toca.

Michel desmaia. Segundos depois, acorda com Violeta lambendo suas mãos, latindo baixinho, rabo entre as pernas indicando o caminho da casa. ETA MUNDO NUMINOSO.

Eu  prefiro o mundo da realidade que é chato, mas, segundo Woody Allen, é nesse lugar onde se pode comer um bom bife.

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