Maria da Glória (Gueguê), nossa companheira marmorrista responde à matéria de Jorge Miranda Ribeiro que foi publicada no Mar de Morros, nº 121, sob o título, Escola: Caso de Polícia.
Caro amigo Aníbal
Recebi hoje o mais recente Mar de Morros (edição 121) e escrevo para protestar contra a matéria inicial, na qual várias pessoas opinam sobre a “educação no Brasil”.
Em primeiro lugar quero falar da minha decepção e do meu choque ao deparar com pessoas de posições tão reacionárias e até mesmo crueis em relação às nossas crianças e aos nossos jovens, alunos de escola pública.
Sei que essas posições não são novidade, são o que se vê na mídia normalmente e mesmo na sociedade em geral. O Brasil odeia suas crianças e a violência contra elas já se tornou banal, o que não deveria me causar espanto.
O que me decepcionou foi o fato de tal postura de autoritarismo e covardia partir de nossos companheiros desse fanzine que tanto admiro e, especificamente, ter sido publicada por você, ou seja com o seu aval.
Um deles, Fábio Negrão, chama os alunos de “bando de sociopatazinhos mirins” e “monstrinhos”. Outro, em seguida (Jaime Fernandes Fulanetto) receita “vara” para educar os filhos. Outro (Jorge Miranda) chama-os de “pestinhas”.
Este último fala de um “tempo pacífico” entre mestres e alunos. Lembrei-me mais ainda dos socos que a nossa professora Da. Nice dava na cabeça do meu irmão (e nos outros alunos também) e das vezes em que ela me deixava ajoelhada, morrendo de vergonha, na frente de toda a turma. E o que mais me intriga é que essa professora considerada “santa e abnegada” era vizinha e amiga da minha mãe. Nós, assim como as crianças de hoje, não contávamos nada em casa, porque os pais sempre dão razão aos professores.
Eu me pergunto: de onde vem tanto escárnio e tanta crueldade contra a criança? De onde vem esse gosto brasileiro pela “vara”, pela “covardia”, pela violência? De onde vem esse autoritarismo que faz com que os adultos tratem as crianças como posse, objeto de seus mandos e desmandos?
De uma certa forma, toda essa postura de crueldade e violência contra a criança vem explicar o porquê do nosso país ser campeão de violência e assassinatos no mundo todo. Também aqui vivemos em guerra, uma guerra sanguinária e covarde de adultos contra crianças.
Quem são esses “mestres” que escreveram a matéria? Não os conheço. Será que são professores? Raivosos assim, é provável que sejam. O que nossas crianças têm a aprender com adultos desse naipe?
Há um trecho que comparam salários de pedreiros com salários de professores. Que injustiça com os pedreiros! Eles que não têm estabilidade, que trabalham à mercê do tempo, expostos a sol, chuva, frio, calor, cuja carga horária é de mais de 8 horas diárias, que se aposentam (se chegarem lá...) com 35 anos de serviço (professor apenas 25 anos), que se trabalham num mês no outro não sabem, que não têm licenças infindáveis, férias-prêmio, greve todo ano, vários meses de férias, etc.
Estou enojada. Das falhas humanas, a que mais abomino é a COVARDIA. Pobres crianças brasileiras, reféns do nosso fascismo enrustido.
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Aníbal, espero que publique esta matéria na íntegra. Já passou da hora de desmistificar essa lenda do “professor santo e abnegado”. Já passou da hora de desmascarar este mito do brasileiro cordial e pacífico. Ele é sim, cordial e pacífico, com os marmanjos maiores e mais poderosos que ele, e aproveita para descontar nas crianças porque as sabe indefesas. E a matéria em questão é uma prova do que digo: quando eles falariam com tanto desprezo de pessoas poderosas??? Mas, com crianças, deitam e rolam.
Abraços,
Glória.
Achei muito oportuna a posição da Gueguê quanto ao ESCOLA CASO DE POLÍCIA. TODOS têm direito a suas opiniões e como eu já fui professor posso também dar minha opinião, mas essa de dizer que o editor do fanzine deu aval ao artigo eu discordo da Gueguê. Afinal de contas quanto a isso o meu irmão sabe muito bem fazer o seu papel de editor. Eu vou voltar ao assunto depois,por enquanto fica apenas a minha observação que todos têm direito a sua opinião e é muito bom o questionamento.
ResponderExcluirMeu irmão,
ResponderExcluiré como eu disse, todo colaborador de Mar de Morros tem o direito de dar a sua opinião, e, isso não tem nada a ver com a minha opinião, tanto assim que eu deixo bem claro no Expediente: toda matéria contida no fanzine Mar de Morros é de inteira responsabilidade do autor.
Obrigado pela força.
Anibal.