quinta-feira, 30 de maio de 2019

HISTÓRIAS DO CAFÉ STO. ANTÔNIO -TREM DE LENHA (Antonio Hygino de Freitas)


Naquela época o trem de lenha era praticamente dia e noite. Era tanta lenha que seus carros enchiam a praça toda. Eram cerca de 50 negros trabalhando pesado, se tinha brancos eu não sei. Ainda no mato, eles punham fogo na lenha e chegavam todos pretos, sujos de carvão. E, deste jeito, apareciam no meu Café Sto. Antônio, cansados e com muita fome. Eu tinha uma vitrine grande de perfumes que ficava logo na entrada do meu botequim. O nome deste perfume era Dirce. Eu acho que nem existe mais. O cara que me vendia este perfume era  casado com a prima da minha mulher Wanda. Ele era de Juiz de Fora, dono da Fazenda Linhares, onde fabricava este perfume, que era um produto muito bom, parecia francês. Cheguei a ir no casamento dele com a minha família. Pois bem, voltando ao trem de lenha, estes homens, sujos e famintos, me davam lucros, o único que me dava prejuízo era o chefe deles, que chegou a montar um barzinho na estação com os meus vasilhames, que nunca devolveu. Voltando aos homens do trem de lenha, eles estavam sempre suados, fedendo carvão, graxa e óleo. Mesmo assim eles passavam o vidro do perfume Dirce todo no corpo para encontrar com as suas mulheres. E quando a gente falava que eles tinham que tomar banho primeiro para depois passar o perfume, eles respondiam rindo, Que nada, um cheiro tira o outro!

Antonio Hygino dr Freitas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VENTO SUAVE (Lenira, Armando e Anibal)