Conta-se nos livros de História, que por volta de meados
do século XIX, numa pequena cidade interiorana de Minas Gerais, uma velha
senhora gostava de ficar à noite na janela de sua casa apreciando o parco movimento
que o lugar lhe oferecia. Acontece que a partir das sete horas da noite, todo
mundo já estava praticamente dormindo, as ruas totalmente desertas, e, mesmo
assim, ela continuava até à meia-noite, no seu posto.
Certo dia, numa noite sem lua, lá pelas tantas, uma
estranha e silenciosa procissão se descortinou à sua frente. Meio assustada,
ela estranhou o horário do evento e o silêncio dos sinos da igreja, todavia, mesmo
assim, continuou observando. De repente, um vulto com o rosto coberto por um véu
se deslocou do cortejo religioso e veio em sua direção e, sem deixar ver o
rosto, lhe entregou duas velas acesas, dizendo, com uma voz cavernosa, Apague
as velas, porque amanhã, neste exato momento, voltarei para buscá-las. Deste
modo, o estranho ser lhe deu as costas e se misturou aos demais passantes. Por
sua vez, agora, bastante assustada, a mulher fechou a janela, colocou as duas
velas apagadas sobre a cômoda e, cansada, pegou no sono.
No dia seguinte, ao acordar, ela achou que tudo não
passara de um sonho, no entanto, foi até à cômoda para averiguar e viu dois ossos humanos, ou
seja, o de um adulto e o de uma criança, no lugar das velas. Com o horror estampado
no rosto, a idosa lembrou que o dono iria voltar, e, deste modo, pegou o terço
e começou a rezar freneticamente. Neste dia, ela não fez nada, e assim, permaneceu
tremendo dos pés à cabeça, até o momento em que ouviu três batidas na sua
janela. Completamente trêmula, ela a abriu e entregou os ossos ao visitante
macabro que, ao pegá-los, num passe de mágica, ambos se transformaram em duas
velas acesas, clareando o rosto de uma caveira, que a advertiu, Isto é pra
você aprender, porque os vivos não podem ver a procissão dos mortos!